"Vou ser melhor do que o Ronaldo." Vlad tem 8 anos, é refugiado ucraniano e jogador no Mafra
Chegou a Portugal há dois meses, fugido da guerra. Foi no Clube Desportivo de Mafra que se reencontrou com o futebol. Vlad está a adorar o novo país e diz até que os professores e os treinadores são "mais bonzinhos" do que na Ucrânia.
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Soa o apito e o verde do relvado enche-se de chuteiras coloridas. É a hora do treino no Clube Desportivo de Mafra. Vlad já está equipado e de bola no pé. Tem 8 anos e chegou aqui vindo de Vinnytsia, na Ucrânia, onde jogava como atacante no escalão infantil do clube local. Não perde um treino desde que chegou a Mafra.
"Aqui o relvado é mais novo e no campo é tudo mais moderno. Gosto muito", admite Vlad à TSF. "Os treinadores são fixes. Estão sempre prontos para explicar, quando eu não percebo alguma coisa."
Foi há dois meses que Vlad veio para Portugal. A mãe de Vlad ouviu falar do país e decidiram embarcar num avião que trazia refugiados para Lisboa. Foi a primeira vez que Vlad andou de avião.
Desde que o conflito na Ucrânia rebentou, são muitos os jovens atletas refugiados, obrigados a fugir da guerra, que chegam ao país. A Federação Portuguesa de Futebol lançou até um apelo para que os clubes portugueses recebessem estes jovens e lhes dessem a oportunidade de voltar a praticar desporto. Mais de uma dezena de clubes responderam ao desafio. Há, nesta altura, cerca de 30 jogadores a treinar por cá. Vlad foi um desses jovens que se reencontrou com o futebol em Portugal.
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Explica que ainda não tem casa. Vive numa pousada, num alojamento cedido pela Câmara de Mafra, onde moram perto de 30 refugiados. Mas diz que gosta de Portugal. Muito. E a mãe de Vlad também. "É tudo muito bonito." Revela que já fizeram muitos amigos, portugueses e de outras nacionalidades, que os têm ajudado. Está, nesta altura, à procura de trabalho - na Ucrânia, trabalhava como contabilista. Pensa ficar por cá. Não sabe quando voltará à Ucrânia... ou sequer se terá um sítio para onde voltar.
Vlad está a integrar-se bem. Anda na escola, no 2.º ano. "Aqui os professores são muito bonzinhos. Na Ucrânia não são assim, são mais severos. Os colegas também são muito simpáticos. Adoro a escola aqui", afirma. "É muito fácil fazer amigos. Mesmo que eu não precise de nada, todos me querem ajudar e ser meus amigos."
Não tem sido difícil ambientar-se, nem na escola, nem no futebol. Marco Santos, coordenador da formação do Clube Desportivo de Mafra, tem acompanhado Vlad e garante que a realidade da guerra não dita a vida de Vlad. "Quando entra no campo, é igual aos outros. Treina nos 'Traquinas', o escalão para a idade dele, e já não quer outra coisa. Anda contente", conta.
"Nós suportamos tudo: os equipamentos, os treinos,... Eles não pagam nada para estar aqui. Já tivemos três [jovens jogadores refugiados], mas dois mudaram de residência, um para Torres Vedras, outro foi para os Estados Unidos. Então, ficou só o Vlad", refere.
Marco Santos revela que o clube fez até um esforço para que a língua não fosse um problema. "Temos um treinador que teve a preocupação de fazer uma tradução das palavras do futebol português para ucraniano. Andava ali no campo com o livro, a explicar o que é que ele tinha de fazer, com as palavras em ucraniano e em português. E conseguiu-se desenrascar."
"Nestas idades, o que é preciso é eles divertirem-se", frisa. Mesmo assim, Vlad leva o futebol muito a sério e já sabe o que quer ser, quando crescer. "Quero ser futebolista", diz.
Agora que está em Portugal, tem esperança de, um dia, encontrar Cristiano Ronaldo, por aí, a passar na rua. Perguntamos-lhe se vai ser como ele quando for grande. "Vou ser ainda melhor."
