Já nos habituamos a que FC Porto e Benfica monopolizem a luta pelo título de campeão nacional, mas, este sábado no Dragão, o jogo do ano será também um confronto de estilos entre as duas melhores equipas portuguesas.
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Já ninguém tem dúvidas que este Porto-Benfica põe frente a frente as duas melhores equipas portuguesas desta temporada, assim como os dois clubes dominadores dos últimos 40 anos do futebol português.
Há 17 anos que nenhum outro emblema é campeão e por exemplo nas últimas 10 ligas, Porto e Benfica venceram cinco cada um, sendo que só por três vezes não ficaram em primeiro e segundo lugar. Esta é, aliás, uma tendência que já vem de longe.
Se olharmos para os últimos 40 títulos, dragões e águias só não ganharam cinco, arrecadando 87,5% dos campeonatos, com o Porto a vencer 23 e o Benfica 12.
Na história do campeonato nacional o Benfica soma 36 títulos e o Porto 29, ou seja, conquistaram 65 em 84, o que corresponde a 77%. Mais do que três ligas em cada quatro.
A História joga a favor do Porto
Curiosamente, apesar da recente superioridade histórica do Benfica (foi tetracampeão nos últimos cinco anos), o Porto tem vencido mais vezes no confronto direto: nos últimos 10 jogos, quatro vitórias portistas, quatro empates e somente dois triunfos encarnados.
Em termos mais latos, no futebol português o Porto é a única equipa com vantagem no confronto direto com o Benfica: 93 vitórias e 87 derrotas.
No que diz respeito aos jogos de campeonato no reduto portista, este é o único confronto negativo para as águias (que por exemplo em Alvalade têm tantas vitórias como derrotas). No recinto do Porto a diferença é bem clara: 50-13 em vitórias para o Porto.
Se reduzirmos a análise a tempos mais recentes, ao contrário do que acontece com o Porto na Luz, o Benfica raramente tem ganho no Dragão para o campeonato: no século XXI, apenas duas vitórias (2004/05 e 1014/15, épocas de títulos benfiquistas), contra 11 triunfos do Porto e cinco empates.
Aliás, nos últimos 40 anos, o Benfica apenas venceu três vezes na casa azul e branca (1991, 2005 e 2014). Já o Porto ganhou 10 vezes na Luz.
Apesar disso, as duas últimas receções do Porto ao Benfica para o campeonato terminaram com empates (1-1 em 2016/17 e 0-0 em 2018/19).
Cartões de visita de respeito
Se antes do jogo deste sábado, a par dos cumprimentos da praxe, Sérgio Conceição e Bruno Lage trocassem cartões de visita relativos ao desempenho recente das suas equipas no campeonato, teriam muito de positivo para ler.
Do lado do Porto de Sérgio Conceição: apesar de ter somado três empates nos últimos sete jogos (em Alvalade, Guimarães e Moreira de Cónegos), não perde para o campeonato desde a deslocação à Luz, a 7 de outubro. São 16 jogos seguidos sem derrotas.
No total de todas as competições, nos últimos 30 jogos, o Porto regista apenas uma derrota (em Roma, para a Liga dos Campeões), contando com 25 vitórias.
Em casa, consentiu somente uma derrota (frente ao Vitória de Guimarães, em Agosto) e um empate (perante o Chaves, na Taça da Liga, em meados de Setembro), num total de 19 partidas. Contas feitas, temos 15 vitórias consecutivas do Porto em casa para todas as competições, sendo que no campeonato é o conjunto com melhor desempenho caseiro.
Na liga, os dragões são a equipa com mais golos de bola parada: 13 (sem contabilizar penáltis), contra 10 do Benfica, que, no entanto, marcou oito vezes desta forma nos últimos oito jogos (desde a chegada de Lage), sendo que com Vitória apenas marcara dois em 15 jogos.
Os portistas são igualmente quem mais fatura de cabeça: 12 golos, contra 11 do Benfica. É fácil imaginar os problemas que o Porto pode criar no jogo aéreo, com Pepe, Filipe, Militão, Danilo, Marega e Soares.
Já em termos defensivos, o Porto é de longe a formação mais forte da liga: 12 golos sofridos (à média de cerca de 0.5 por jogo), sendo igualmente a equipa que menos oportunidades de golo concede (2.3 média por jogo).
Por seu lado, o Benfica ganhou todos os jogos de campeonato desde que Bruno Lage chegou ao comando técnico: oito vitórias consecutivas e 33 golos marcados, a uma média superior a quatro tentos por jogo. Os encarnados têm o melhor ataque da liga por larga margem: 64 golos marcados (2.8 por jogo), contra 47 do Porto (segundo melhor ataque).
O Benfica é a melhor equipa da liga na condição de visitante, com 28 pontos conquistados, sendo ainda o conjunto que cria mais oportunidades de golo (com uma média por jogo de 6.9) e o mesmo se passa em termos de remates no alvo (6.8), um aspeto em que se destaca também em termos das melhores ligas europeias.
As águias são igualmente a equipa mais forte do campeonato na posse de bola (média de 58% por jogo), no número de passes realizados (505) e na percentagem de passes certos (81.6%).
Finalmente, convém lembrar que o Benfica recuperou seis dos sete pontos de desvantagem que chegou a ter para o Porto, em sete encontros apenas. Bastará isto para dizer que o Benfica se apresenta no clássico do Dragão por cima, apesar de estar na segunda posição?
Filme de ação ou cinema de autor...
Os dados ofensivos do Benfica no campeonato justificam plenamente a ideia de que os encarnados jogam o futebol mais atrativo da prova, nomeadamente no consulado de Bruno Lage.
Mas será essa qualidade estética capaz de levar de vencida a competitividade e consistência do futebol mais físico e musculado do Porto de Conceição?
Poderão os jovens "turcos" de Lage silenciar o Dragão, perante uma equipa muito mais experiente e astuta?
Note-se que os onzes expectáveis de Porto e Benfica poderão atingir uma diferença de quase quatro anos em termos de média etária: 28,3 do lado portista e 24,6 da parte do Benfica. E a média de idades dos centrais do Benfica (Dias e Ferro) é de 20 anos...
Prevê-se, pois, uma batalha sem quartel entre um Porto mais pragmático, fortíssimo nos duelos individuais e na disputa física, capaz de tirar partido das bolas paradas e do ataque organizado (principalmente a partir do flanco direito), e o futebol mais burilado e mais veloz do Benfica, que tem no ataque rápido a partir do corredor central a sua grande arma, marcando cerca de metade dos seus golos de bola corrida após transições rápidas.
Tudo indica que será de esperar, pelo menos na fase inicial da partida (porque depois o jogo ditará as suas próprias leis), um dragão de pressão alta, com a defesa bem subida, para impedir o forte jogo entrelinhas das águias, enquanto o Benfica poderá ser mais expectante, procurando impedir o ataque à profundidade típico deste Porto, principalmente com Marega como referência, ao mesmo tempo que privilegia o contra-ataque, com Rafa e Félix como atores principais.
Nota: o clássico do Dragão foi o tema central do programa Números Redondos desta semana (na antena da TSF, às sextas-feiras, às 20.30) - que pode ouvir aqui, na íntegra.