A campanha de apelo ao voto nas eleições europeias do próximo ano é ilustrada em Portugal pela imagens de uma iniciativa que levou até às ondas de Carcavelos seis dezenas de pessoas com deficiência.
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São onze da manhã e só agora o sol começa a aparecer por entre as nuvens. Sol que se espelha na água e torna o ambiente aprazível. Junto à areia molhada de Carcavelos, Nuno Vitorino é avisado de que andam à sua procura. Pede algum tempo: não é hora de receber convidados, mas antes de se juntar na água às dezenas de pessoas com deficiência e voluntários que já saboreiam as ondas do mar calmo da costa lisboeta.
Sessenta pessoas com deficiência experimentam, pela primeira vez, as ondas de Carcavelos, numa iniciativa promovida pela Associação Portuguesa de Surf Adaptado. A representação em Portugal da Comissão Europeia e o gabinete do Parlamento Europeu escolheram-na, numa inovadora campanha para promover o voto nas eleições europeias do próximo ano.
Nuno Vitorino, o presidente da associação, sofreu um acidente com uma arma de fogo em 1995, quando já era maior de idade. Para trás fica um passado ligado ao desporto, onde o surf e o bodyboard preenchiam os finais de semana passados com amigos. Tetraplégico, não se remeteu a uma cadeira de rodas.
"Fiz natação de competição depois do acidente. Fui atleta paralímpico", sublinha. Mas das experiências após o acidente, há uma história que marca a sua vida.
Numa manhã de sábado desafiou dois amigos a ir com ele para o mar. Levou uma prancha no carro e tentou surfar com a ajuda dos companheiros. Correu mal. "Era um peso morto, criava atrito constantemente. Percebemos que tínhamos de surfar numa prancha maior. Foi o que fizemos no fim de semana seguinte. Eles empurraram-me na onda, comecei a surfar. Decidi abrir essa experiência a toda a sociedade."
Nascia assim, de um encontro de amigos, a Associação Portuguesa de Surf Adaptado. "Transformamos o surf, que era um desporto individual, num desporto coletivo, de entreajuda." Entre dezenas de praias de Portugal continental e dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, a associação já levou para as ondas mais de 18.000 pessoas.
Foram estas iniciativas que chamaram a atenção da Comissão Europeia e o Parlamento Europeu, levando as instituições a promover uma iniciativa conjunto com a associação, como forma de arranque e imagem para a campanha de luta contra a abstenção nas europeias do próximo ano. Na praia de Carcavelos juntaram dezenas de pessoas, entre voluntários e pessoas como deficiência.
Nuno Vitorino explica ainda que, na preparação da iniciativa com a Comissão, a Associação de Surf Adaptado aproveitou para deixar alguns reparos. "Faltam programas de desporto adaptado". Uma forma, explica o presidente, de ajudar a evitar idas ao médico e melhorar a saúde. "Há vários exemplos, sobretudo nos países nórdicos, que comprovam a eficácia das políticas de promoção do desporto adaptado, mas falta uma linha comum na Europa".