Pedro Martins e a qualidade do futebol: o segredo para convencer gregos

Três temporadas na Grécia e três títulos (para já). Pedro Martins somou este fim de semana o segundo campeonato consecutivo pelo Olympiakos depois de vencer o rival Panathinaikos. Em entrevista à TSF, Pedro Martins fala do título conquistado a sete jornadas do final, numa época sem direito a férias para jogadores e equipa técnica.

O estádio estava sem adeptos, mas a festa do título fez-se na mesma, em pleno relvado. Lá apareceram os fumos, marca dos adeptos que costumam povoar as bancadas do estádio no Pireu, sempre num tom efusivo, bancadas habituadas a uma alegria transbordante, despidas desde há mais de um ano. Para o treinador português Pedro Martins vencer o título de campeão grego frente ao Panathinaikos - o rival eterno do Olympiakos -, representa mais um momento para guardar na memória, embora, para o treinador português, este seja apenas um capítulo final de um longo processo, um ano para recordar por diferentes motivos.

Contas feitas de cabeça, "já estamos há duas épocas, praticamente, sem adeptos", lembra Pedro Martins. "Por si só, isto já é estranho e dificulta o trabalho para quem gosta de futebol, dos adeptos, da paixão. Causa tristeza". Este período coincide com os dois títulos de campeão nacional consecutivos conquistados pelo treinador português na Grécia, ao serviço do Olympiacos, ele que agora leva o clube ao campeonato número 46 do historial.

Por causa da pandemia, a temporada 2020/2021 começou com apenas 15 dias de preparação - leia-se, pré temporada -, e sem férias para jogadores e equipa técnica do Olympiakos. "É um ano particularmente difícil, estamos praticamente há dois anos a competir, sempre sem parar. Embora possa dizer que temos um "grande plano", fizemos, acima de tudo, uma gestão hora a hora, dia a dia, durante 18 meses. É uma grande aprendizagem, crescemos muito com isso".

Convencer os gregos, adeptos e dirigentes

"Temos um grupo estabilizado, jogadores que conhecem o treinador, um treinador que conhece os jogadores. Por isso, o processo acabou por não se ressentir", aponta Pedro Martins sobre a gestão dos últimos meses. A equipa pode ainda vencer a Taça da Grécia - revalidar o título conquistado em setembro, na final frente ao AEK (1-0) -, se ultrapassar o PAS Giannina nas meias-finais. Um hábito de vencer que o clube reencontrou com a liderança de Pedro Martins.

Quando chegou ao Olympiakos, o clube vivia uma crise de resultados, com uma sucessão de treinadores promovida pelo presidente Evangelos Marinakis."Foi necessário fazer uma reestruturação completa, criar uma nova filosofia para o clube e para o plantel. Não fomos campeões no primeiro ano mas criou-se o "grande plano", que nos tem permitido aquilo que temos viemos a conquistar. Muitos jogadores novos, muitas saídas e uma nova filosofia, um projeto completamente diferente", explica Pedro Martins.

Mas a primeira temporada não resultou em títulos. Pedro Martins explica o que permitiu conquistar tempo e confiança: "A equipa jogava bem e nos seis meses anteriores deu sinais de que estávamos a criar um grupo muito forte. Toda a gente percebeu. O presidente, a estrutura, os adeptos - sendo sempre muito exigentes - que sempre nos apoiaram. Houve essa paciência porque a equipa estava a responder com jogos de grande qualidade, de grande evolução", aponta.

Dois anos volvidos Pedro Martins é agora o treinador com mais tempo de Olympiakos nas últimas duas décadas. Desde 1999 passaram pelo clube dezenas de treinadores numa galeria com nomes como Leonardo Jardim, Vítor Pereira, Paulo Bento ou Marco Silva, mas também Ernesto Valverde ou Michel. Com mais uma temporada de contrato, Pedro Martins quer continuar até junho de 2022. "Temos um projeto inacabado".

Jogadores portugueses e o amargo de boca

O projeto do clube passa também por marcar presença nas fases decisivas das provas europeias. Pedro Martins é já o treinador da história do clube grego com mais vitórias na Liga dos Campeões.

Este ano, na liga milionária, o clube acabou por cair para a Liga Europa, prova onde, tal como o Benfica, foi eliminada pelo Arsenal. "A equipa ficou muito condicionada com a Covid-19 em momentos cruciais, na Liga dos Campeões. Foi isso que não nos permitiu lutar com o Futebol Clube do Porto na fase de grupos por uma possível qualificação", explica.

"O Manchester City e o FC Porto foram as melhores equipas na fase de grupos e com todo o mérito conseguiram a passagem. Com o Arsenal tivemos problemas com os centrais - três defesas lesionados -, o que dificultou um pouco. Ficou um registo interessante, positivo, mas queríamos mais e vamos tentar no próximo ano", aponta Pedro Martins.

Para o treinador, para além dos títulos, há ainda a destacar a evolução dos jogadores. A viragem estratégica do clube para mercados internacionais a partir de 2018, fez chegar ao plantel vários jogadores portugueses ou atletas vindos da liga portuguesa. Para além de nomes como Oleg Reaubiuk ou do goleador Hassan - ex-Rio Ave e Sporting de Braga, com 15 golos esta temporada -, o clube do Pireu tem vários internacionais portugueses que lutam por um lugar no próximo campeonato da Europa.

"Penso que o Bruma está nos pré-convocados e é um jogador em análise", explica Pedro Martins sobre as possíveis escolhas de Fernando Santos. "O Rúben [Semedo] foi a constatação de que estamos perante um central de grande qualidade. Voltou a fazer uma época excelente, está muito mais estável. [José Sá] está na terceira temporada - na Grécia - e está a fazer um grande campeonato. É um guarda-redes de grande maturidade, já experiente. Cabe ao selecionador escolhê-los, mas espero vê-los numa competição europeia, teria muito orgulho nisso".

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