O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros considera que a UE está transformada num directório e sublinha que a cimeira do próximo domingo tem de trazer soluções para a crise.
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A União Europeia (UE) deixou de ser dirigida de forma democrática, considera Freitas do Amaral, acrescentando que o poder está nas mãos de duas pessoas, ou até nem tanto, a UE transformou-se outra coisa.
«Um directório dirigido por duas pessoas ou para sermos mais correctos por uma pessoa e meia, porque a segunda vai sempre atrás», afirmou.
Retrato de Ângela Merkel e de Nicolas Sarkozy, que nos últimos meses têm mantido encontros à margem das instituições europeias, tomando decisões de combate à crise.
Um combate que pode ter o último assalto no próximo domingo. A cimeira de dia 23 tem de trazer respostas claras, os mercados não vão aceitar outra coisa, considera Freitas do Amaral.
«[Os mercados] não estão à espera de adiamentos, de princípios gerais, de calendários desdobráveis no tempo, de promessas, estão à espera de decisões», sublinhou Freitas do Amaral.
E, por isso uma resposta clara é fundamental. «Ou nós temos a resposta clara, de efeitos imediatos, no próximo domingo em Bruxelas, ou vamos começar a cair em socalcos até nos despedaçarmos nas rochas junto ao mar», alertou.
Ângela Merkel tem de tomar as decisões de que a Europa precisa, ainda que com isso corra o riso de perder as eleições.
«Talvez perca as eleições do próximo ano, mas se o Churchill não tivesse tomado as medidas que se impunham para salvar a Inglaterra e a Europa, todos viveríamos hoje numa ditadura nazi. E assim ele conseguiu a vitória da liberdade, embora perdendo as eleições. Alguém o considera menos um herói da história universal por ter perdido as eleições? Não, o que ficou foi a coragem», lembrou.
Por isso, o antigo ministro dos Négocios Estrangeiros quer que Merkel seja capaz de enfrentar esta segunda versão da hora mais negra da Europa.