Luís Campos e Cunha, antigo ministro das Finanças, não vê futuro na atual solução parlamentar. E não antecipa consequências "relevantes" do Brexit para Portugal.
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"De há 6 meses para cá estamos a ver uma onda de greves e isso significa que a 'Geringonça' acabou. Do ponto de vista político acabou", defende Luís Campos e Cunha, em entrevista à TSF e ao Dinheiro Vivo.
O economista vê, aliás, poucas possibilidades de repetição do modelo encontrado para estes quatro anos. "Penso que não é possível ressuscitá-la na próxima legislatura, o que leva a pensar que é importante que o PS tenha maioria absoluta", argumenta.
"Estamos a ver o maior partido da oposição numa situação bastante precária. Portanto, mais incerteza não, sob pena de [o PS] não conseguir...", afirma.
Campos e Cunha entende que a solução governativa deste período se deve a "uma grande capacidade de António Costa de negociar e da sua própria credibilidade", mas defende também que é "fruto das circunstâncias". O antigo ministro acredita que "não há outro momento igual a este".
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Fazendo um balanço da legislatura até ao momento, o professor catedrático da Nova School of Business and Economics lamenta que o Governo não tenha mantido a redução do IRC acordada com o PSD na legislatura anterior; critica ainda a redução do IVA na restauração; e as alterações à carga horária na Função Pública, de 40 horas para 35 horas. Ainda assim, o antigo ministro das Finanças aplaude a gestão das contas públicas e sublinha que, ao não alterar de forma significativa as leis do trabalho, o Governo permitiu que houvesse uma recuperação do emprego.
Eleições geram incerteza na economia
Nesta entrevista à TSF e ao Dinheiro Vivo, Campos e Cunha afirma que as eleições legislativas deste ano vão ter impacto no comportamento da economia portuguesa, porque processos eleitorais geram sempre incerteza. O antigo ministro das Finanças acredita que o PIB vai crescer entre 1,5% e 2% em 2019.
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Campos e Cunha aponta também como incertezas as eleições para o Parlamento Europeu, a nomeação do próximo presidente da Comissão Europeia, a substituição de Mario Draghi no Banco Central Europeu, a guerra comercial americana e, em menor grau, o Brexit.
Brexit sem consequências "relevantes" para Portugal
Campos e Cunha diz acreditar que o impacto da saída do Reino Unido vai ser reduzido para Portugal e para a União Europeia, mesmo no caso de um 'Hard Brexit' - saída sem acordo com a União Europeia.
"Não tem em princípio consequências muito relevantes para a UE, nem sequer para Portugal, continuarão a vir turistas ingleses para Portugal", defende Campos e Cunha. "Antes de nós estarmos na UE, antes de eles estarem na UE, já havia turistas ingleses em Portugal, desde o século XIX que há ingleses na Madeira, não é por causa do Brexit, seja 'hard' ou negociado...".
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Para o Reino Unido, no entanto, Campos e Cunha entende que um 'hard Brexit' seria "uma catástrofe". "Para Inglaterra as consequências são gigantescas, se for um 'hard Brexit' há problemas de rutura de medicamentos, de 'stocks', de alimentação e sendo uma ilha a coisa torna-se mais complicada", antevê o economista.
"Um 'hard Brexit' para Inglaterra tem consequências catastróficas. Por alguma razão o ministro das Finanças inglês está tão preocupado", nota Campos e Cunha.
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