Nos 30 anos da TSF, Bagão Félix debruça-se sobre a Economia da Saúde e como, ao longo dos anos, os avanços na área estão a fazer com que ter saúde seja mais caro para os portugueses.
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Bagão Félix considera que, cada vez mais, ter saúde está a ficar mais caro. No espaço de comentário da TSF, "A Opinião", o economista falou sobre a Economia da Saúde e aquilo que tem mudado em Portugal nesta área, nos últimos anos.
Para este encarecimento da saúde contribuem, na opinião de Bagão Félix, três fatores essenciais: o aumento da esperança média de vida, os avanços tecnológicos e o "princípio do terceiro pagador", que rege o Sistema Nacional de Saúde (SNS).
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"Desde 1940 até agora, por cada ano, a esperança média de vida à nascença aumentou cerca de cinco meses, o que é uma coisa absolutamente notável", constatou o comentador, salientando que também a "descida brutal" da taxa de mortalidade infantil, "que é das mais significativas no mundo todo", desempenhou um papel importante neste desenvolvimento.
Bagão Félix nota, no entanto, que apesar deste aumento da esperança de vida, não se trata de uma vida com saúde. Em Portugal, "aos 65 anos, as pessoas só tem mais seis anos de esperança de vida saudável", sublinhou.
"As pessoas vivem mais tempo" e, vivendo mais tempo, desenvolvem outras doenças e precisam de outros cuidados, o que significa "uma pressão sobre as despesas com os cuidados e tratamentos, do ponto de vista do diagnóstico e do tratamento", explicou o antigo ministro das Finanças.
Sobre os custos inerentes ao avanço da tecnologia, Bagão Félix diz que a Economia da Saúde é diferente de todos os outros setores económicos. "Nos outros setores, o desenvolvimento científico e tecnológico implica uma diminuição dos custos dos bens e serviços. Na Saúde, não é assim. O desenvolvimento tecnológico tornou a medicina mais cara", referiu.
O economista diz que, dentro de 30 anos, os custos de saúde com cuidados geriátricos irão representar 9% do Produto Interno Bruto (PIB) português.
A estes fatores, junta-se aquele que, para Bagão Félix, "é o pecado original" do Sistema Nacional de Saúde: o "princípio do terceiro pagador". Bagão explica: "O médico prescreve, o doente consome e o Estado paga. Aquele que paga não é aquele que define o ato da despesa", o que, defende o comentador, gera "sobreconsumo e sobreprescrição" no SNS.
Por esse motivo, o antigo ministro das Finanças considera que "quer os doentes, quer os profissionais de Saúde, têm de tornar-se gestores dos recursos escassos" do Sistema Nacional de Saúde. É que "a vida não tem preço, mas é cada vez mais cara", diz.