Faltou vontade. É a principal razão apontada por José Queiroz, antigo presidente da empresa responsável pela construção do aeroporto de Beja, para o fracasso do projeto.
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O gestor, hoje reformado, lembra que o objetivo político que presidiu à construção do aeroporto de Beja era o de permitir que esta infraestrutura fosse um polo dinamizador da região do Alentejo. Na hora de fazer um balanço, José Queiroz dá conta de "uma enorme desilusão por não se ter cumprido esse objetivo".
Entre os responsáveis, o antigo presidente da Empresa de Desenvolvimento do Aeroporto de Beja (EDAB), elege, por exemplo, a ANA - Aeroportos de Portugal. A empresa ficou com a concessão do aeroporto mas, segundo o gestor, o contrato firmado com o Estado português não foi cumprido. Lembra que "cabia à ANA a responsabilidade de desenvolver todas as ações no sentido de criar ocupação para o aeroporto e, de facto, essa determinação não foi cumprida minimamente". Entre as responsabilidades por cumprir estão, por exemplo, "a captação de operadores aéreos e atividades diversas, como manutenção e engenharia de estacionamento".
Não é a única entidade visada. José Queiroz aponta também o dedo à TAP. O gestor diz que havia o compromisso de a transportadora aérea instalar no aeroporto de Beja um centro de manutenção, propósito que não foi cumprido. "A própria TAP desistiu de forma quase informal, através de um telefonema, quando comprou a manutenção do Brasil, a Varig". Acrescenta José Queiroz, "com os prejuízos que essa empresa causa anualmente, já tinham construído vários centros de manutenção no aeroporto de Beja".
Sobre a ausência de captação de operadores aéreos de passageiros para Beja, o antigo presidente da EDAB responsabiliza também o poder político. Dá o exemplo das negociações com a companhia low cost RyanAir. Segundo José Queiroz, o processo negocial para o estabelecimento da companhia em Beja durou quase um ano, mas uma reunião com o então secretário de estado Paulo Campos acabou por ditar um desfecho diferente. Conta o gestor que quando o governante "recebeu a RyanAir, recebeu-a conjuntamente com um administrador da ANA e depois da reunião a RyanAir foi para o Algarve, para Faro".
Não avança nenhuma explicação para esta sucessão de contrariedades que acabaram por ditar o fracasso deste projeto mas, a este propósito, faz questão de recordar um facto. "Lembro que havia uma grande campanha para a construção do novo aeroporto de Lisboa e era preciso garantir que o aeroporto da Portela estava ocupado, tinha esgotado a sua capacidade, para se poder avançar com isso [construção de novo aeroporto]". À pergunta sobre se a ausência de transferência de tráfego da Portela para Beja visava concretizar este objetivo, José Queiroz limita-se a dizer "não estou a concluir nada".
Sobre o futuro, o gestor diz que espera que o aeroporto de Beja ainda se possa vir a revelar um instrumento de desenvolvimento do Alentejo porque "se não se cuida do desenvolvimento do Alentejo qualquer dia é um deserto humano".