Ouvido no Fórum TSF, Clemente Pedro Nunes, professor catedrático e especialista em energia, apela para que Portugal ultrapasse a dependência energética em relação a Espanha
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O engenheiro químico Clemente Pedro Nunes considera, no Fórum TSF, que a "propaganda incorreta e tendenciosa a favor de energias renováveis" de que Portugal foi alvo contribuiu para o apagão ibérico e defende, por sua vez, um "mix equilibrado", até porque, considera, armazenar eletricidade implica custos elevados.
As afirmações de Clemente Pedro Nunes surgem após a notícia de que a empresa que gere a rede elétrica espanhola (Red Eléctrica) já tinha alertado, em fevereiro, para o risco de "desconexões severas" devido à elevada aposta em renováveis, por ser uma produção menos estável e que envolve instalações pequenas e de autoconsumo, entre outros aspetos, o que tem como consequência uma menor capacidade de adaptação a perturbações.
Ouvido no Fórum TSF, o especialista em energia esclarece também que a "eletricidade diretamente não se armazena" e que as formas indiretas que existem de fazer esta retenção "são muito caras".
"E isso não foi passado para a opinião pública ao longo dos anos em que se fez uma propaganda excessiva, incorreta e tendenciosa a favor dessas energias renováveis intermitentes", afirma. Aponta a questão das eólicas offshore, sobre as quais o Governo está para fazer "um estudo que, felizmente, já foi atrasado várias vezes", para dar "mais um feed-in tariff [incentivo às renováveis] a essa eletricidade". Acrescenta: a maior parte dos países já desistiu dessa opção.
O professor catedrático considera, por isso, que "irracionalidades" levaram ao apagão ibérico desta segunda-feira: "Então os consumidores vão pagar um preço excessivo para produzir eletricidade às horas e nos momentos em que ela já não é precisa?" E justifica este argumento com o facto de só num dia (esta quarta-feira) já existir um valor elevado: "Seis mil megawatts de potência eólica com feed-in tariff."
Mas a solução passa por descartar formas de energia limpas? Também não. Clemente Pedro Nunes defende um "mix equilibrado" entre as energias renováveis e as fósseis. É igualmente preciso dizer à população "os custos que estão envolvidos", algo que o Executivo atual "já começou a fazer", afirma.
Advoga ainda a urgência de Portugal ultrapassar a dependência energética em relação a Espanha, uma decisão que atribui ao anterior Governo de António Costa, e que agora se mantém "por arrasto".
"Mas o que é certo é que a REN [Rede Elétrica Nacional], quando se fala de responsabilidade, é que é o operador público", remata.
