Produtores queixam-se de dificuldades crescentes para fazer face aos custos de produção e acusam o Ministério da Agricultura de não cumprir o que promete.
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Um grupo de agricultores com perto de uma centena de tratores condicionou a circulação rodoviária na fronteira de Bemposta, em Mogadouro, distrito de Bragança, que faz a ligação do Planalto Mirandês, através da localidade espanhola de Fermoselle. Uma ação de protesto contra os cortes e os atrasos nos apoios ao setor.
Além disso, esta manhã, o Movimento espontâneo de agricultores organizou uma concentração na vila de Mogadouro a que se seguiu uma marcha lenta a partir do nó de acesso ao Itinerário Complementar (IC) 5, em Mogadouro até à fronteira de Bemposta, uma ação que a TSF acompanhou.
O protesto começou algo tímido, pela manhã, com uma concentração de seis dezenas de tratores na vila de Mogadouro. A meio da manhã, já eram mais de uma centena os que percorriam as ruas da vila transmontana.
À hora de almoço decidiram rumar até à fronteira de Bemposta, que fica a 26 quilómetros de Mogadouro, para condicionar a circulação na ligação a Fermoselle, em território espanhol. As razões do protesto são transversais a todo o país: falta de apoio e cortes nos subsídios, mas Orlando Fernandes, produtor de amendoal e olival em Mogadouro, acrescenta outros: “Os subsídios e o acesso aos projetos de investimento são muito burocráticos e queríamos isso mais simplificado, principalmente para os pequenos agricultores.”
Críticas aos sucessivos governos por falta de apoio ao setor é o que se percebe nas declarações de outro agricultor.
“Isto já vem de longa data, mas com o atraso no pedido dos pagamentos, com os cortes nas agroambientais entre 25 a 35% e como os custos de produção são cada vez maiores, a agricultura fica cada vez mais difícil”, lamenta Amílcar Machado.
Já André Almendra, de Sendim, no concelho de Miranda do Douro, entende que este protesto faz todo o sentido. “Nos últimos dois anos, o Ministério da Agricultura tem feito promessas e não tem cumprido, tanto em valores como em datas e isso para o agricultor é muito mau”, afirma.
E Fernando Pimentel, produtor de leite de Mogadouro, dá mais um exemplo da falta de motivação para continuar no setor. “Há oito anos, havia 50 produtores de leite aqui, neste momento somos apenas quatro e, daqui a um ano, não será nenhum”, garante o agricultor que compara a situação com a vizinha Espanha.
“Se mudar a minha exploração para o lado de lá, recebo mais 25 mil euros por ano pelo produto, porque qualquer agricultor espanhol recebe a dois euros por litro de leite e eu estou a receber a um euro e 25 cêntimos”, levando-o a concluir que, “daqui a pouco, os portugueses vão comer queijo 100% feito de leite espanhol”, adianta.
O protesto decorreu um dia após o Governo ter anunciado um pacote de cerca de 500 milhões de euros, destinado a mitigar o impacto provocado pela seca e a reforçar o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC).
