Os mais recentes números indicam que 2023 foi o ano que bateu o recorde de produção com mais de 20 milhões de unidades, entre as quais estão seis milhões de unidades certificadas com IGP - Indicação Geográfica Protegida – o que torna a Alheira de Mirandela como o produto certificado que mais vende no nosso país.
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Quando se fala de Mirandela, a ligação à alheira é praticamente espontânea. O mais conhecido dos enchidos de fumeiro acabou por se transformar numa imagem de marca, eleito uma das sete maravilhas da gastronomia nacional e já carinhosamente denominado como o produto ex-libris gastronómico de Mirandela, que se transformou em negócio de milhões.
Em termos financeiros, os últimos dados oficiais conhecidos, divulgados pela Direção Regional de Agricultura, remontam a 2016, revelando que o volume de negócios do setor ultrapassava os 30 milhões de euros anuais. Depois, há que ter em conta a empregabilidade do setor que representa cerca de 600 postos de trabalho.
Em 2023, segundo dados adiantados pelas cinco maiores empresas do setor, e outras 18 unidades de produção local, a operar no mercado, a produção de alheiras ultrapassou as 20 milhões de unidades, o que representa um aumento de 27 por cento, face a 2022.
Aumento comprovado pelo proprietário de uma das cerca de duas dezenas de lojas de venda de produtos regionais, espalhadas pela cidade, abertas todos os dias, incluindo fins-de-semana e feriados. “A maioria das pessoas que nos visita tem claramente a intenção de levar as nossas alheiras e temos sentido um aumento nas vendas, principalmente no último ano”, confirma Bruno Pinheiro.
O sucesso da Alheira de Mirandela (AM) é também comprovado por ser o produto IGP (Indicação Geográfica Protegida) que mais vende em Portugal. Segundo a Tradição e Qualidade, entidade certificadora, em 2023, foram certificadas mas de seis milhões de unidades.
Há cinco empresas que estão habilitadas para produzir a AM certificada. Uma delas é a Topitéu. “Há 14 anos, quando entrei para a empresa, a alheira era o produto que menos vendia, agora representa 70 por cento do total dos produtos”, revela Pedro Caldeira, um dos administradores.
Em 2023, a empresa teve um aumento de 27% face ao ano anterior. “Este ano, o aumento deve ser superior, tendo em conta que nos primeiros dois meses já registamos um aumento de 36%, face ao período homólogo de 2023”, que pode estar relacionado com a descida do IVA de 23 para 13%, no início do ano. “Foi uma boa medida, porque as matérias-primas estavam a seis por cento e depois sermos taxados a 23 por cento, em termos de custo final acabava por ter alguma expressão”, conta.
No entanto, este empresário encontra outra explicação para este crescimento. “É um produto barato e de excelente qualidade, porque um quilo de alheiras pode ser o suficiente para alimentar uma família com cinco pessoas, o que significa um custo de oito euros”, diz o administrador desta empresa que emprega 50 trabalhadores e exporta para 13 países.
E o enchido considerado uma das sete maravilhas da gastronomia vai à mesa sem batata frita nem ovo estrelado. “ A alheira é grelhada e vai à mesa com batata cozida e grelos, regados com um bom azeite extra virgem da região transmontana”, diz o Chef Manuel Gonçalves, do restaurante “Bem Bô”, de Mirandela, que revela um pequeno segredo para que a alheira fique no ponto. “Depois de colocada na brasa, ela tem de respirar para não criar ar por dentro, sob pena de a tripa poder rebentar, então utilizamos um palito ou uma agulha para fazer alguns furos e depois de ela estar no ponto, é servir”, explica este Chef criador de outros pratos ligado ao produto como o folhado de alheira, cogumelos recheados com alheira e até gelado de alheira.
