Ambiente anuncia em breve cortes de água no Algarve, agricultores falam em situação catastrófica
Corte será de 70% para o setor agrícola da região e a "sobrevivência das plantas" é posta em causa.
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O plano de contingência ainda não está fechado, mas o ministro do Ambiente desdobrou-se em reuniões no Algarve na última semana para anunciar aos diferentes setores o que se encontra em estudo. Acompanhado por dirigentes da Agência Portuguesa do Ambiente e de outros organismos nacionais e regionais, Duarte Cordeiro deu a conhecer que a agricultura da região será atividade mais afetada: terá um corte de água a rondar os 70%. Não tendo apanhado de surpresa os agricultores, este anúncio não deixou de ser um "balde de água fria" para o setor.
O presidente da Associação de Regantes do Perímetro de Silves, Lagoa e Portimão considera que, perante o cenário apresentado, se não começar a chover a situação será catastrófica: "O corte de 70% põe em causa não só a produção, mas a sobrevivência das plantas."
João Garcia adianta que a maior preocupação naquele perímetro de rega, que totaliza 2600 hectares, é o facto de 90% da produção ser formada por pomares de citrinos, uma cultura permanente que precisa de água. Se não começar a cair chuva do céu em breve, o que não acontece com abundância há muitos meses no Algarve, pode estar em causa a subsistência de 1800 agricultores.
Só o concelho de Silves produz 50% de toda a laranja consumida a nível nacional. João Garcia sublinha que os prejuízos vão ser enormes e que, só naquele perímetro, "podem chegar aos 12 milhões de euros de prejuízo".
Nesta zona do barlavento do Algarve, os agricultores só terão direito daqui para a frente a mais dois milhões de metros cúbicos de água, quando uma campanha de rega normal precisa de 12 milhões.
Macário Correia aponta que os cortes de água nesta zona serão também enormes, dado que no sotavento havia "um uso habitual de 25 hectómetros cúbicos, e agora o que está pensado pode ir de sete a dez, significa que é um terço".
O ex-autarca e agora agricultor afirma que já foram pedidos ao ministro do Ambiente apoios para esta situação e lamenta que, após tantos anos de seca, não se tenha pensado há mais tempo num plano B.
No sotavento do Algarve, o presidente da Associação de Regantes explica que, em conjunto com o Governo e as autarquias, há soluções de recurso que estão a ser pensadas.
"Pedimos a colaboração das câmaras municipais de Olhão, Tavira e Castro Marim, que têm furos que podem ser explorados para libertar alguma água das barragens que não seja consumida para o ciclo urbano e pode ficar para a rega dos campos agrícolas", bem como a utilização de alguma água de estações de tratamento.
"Se se tivesse pensado em soluções há alguns anos, porventura hoje a situação estaria mais folgada, mas desde [a barragem] de Odelouca, que foi há 14 anos, nunca mais se tomou nenhuma decisão", adianta.
Às autarquias também vão ser pedidos cortes a rondar os 15%, bem como ao setor turístico: está a ser ponderado, por exemplo, que a própria lavagem da roupa nos hotéis que pertençam a cadeias nacionais possa ser feita fora da região.