A apresentação do “Atlântico”, o primeiro protótipo do barco solar desenvolvido pela FEUP Academic Solar Team, está marcada para esta quinta-feira à tarde, no auditório José Carlos Marques dos Santos da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
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Começou por ser o sonho de 30 alunos de Engenharia. Hoje mobiliza mais de 50 estudantes que, juntos, construíram no seio da Academia este primeiro barco solar de seis por dois metros, com capacidade para um a quatro tripulantes e uma autonomia para navegar durante uma hora.
Um ano depois recebe o nome do Oceano que o inspirou: Atlântico.
João Alegre, líder da equipa da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, adianta à TSF que é uma embarcação cuja ideia de conceção surgiu quase há dois anos e agora foi possível chegar mesmo a um protótipo com uma estrutura construída a 100% por materiais sustentáveis. Também implementaram diversos tipos de tecnologia. Assegura que, por exemplo, num dia de verão, pode ultrapassar uma hora de autonomia.
Pela proximidade da faculdade ao mar, decidiram dar-lhe o nome do oceano, até porque faz parte do quotidiano dos alunos e “é onde tudo isto vai tomar forma". "Onde o nosso sonho vai ganhar vida", diz.
Ainda a ajudar na escolha do nome, esteve o facto de o "Atlântico" ser um barco com hydrofoils, uma estrutura semelhante a uma asa, e, quando submersa, gera sustentação ao levantar o barco acima da água, o que permite, diz o estudante, diferenciar dos restantes barcos sem esta estrutura. Conseguiram triplicar a eficiência do protótipo, fazendo com que seja preciso muito menos energia para fazer o barco andar e obter uma boa performance.
O estudante adianta que, esta quinta-feira, a apresentação do design à Academia é apenas o primeiro passo de uma longa caminhada, pois a intenção da equipa é levar este protótipo a competições universitárias, tal como já fazem outros alunos com os seus exemplares, como, por exemplo, o IST em Lisboa. Também já pensam em provas ainda este ano.
A partir de agora, inicia-se a fase de testes, mas querem ir mais longe. Garante que o barco foi projetado "com uma estrutura sólida o suficiente para poder estar, não só, nos palcos das competições, mas também ir a algumas provas com etapas em mar aberto, como as que se realizam no Atlântico, junto à costa portuguesa".
Pensada está também uma versão 100% autónoma a apresentar já no próximo ano, que está a ser trabalhada a partir do sistema de hydrofoils de controlo, aproveitando o usado na versão solar desta primeira demonstração, para transformar num controlo de voo automático de forma 100% autónoma.
Para a versão autónoma, já dada como o próximo protótipo, estão empenhados num trabalho árduo que culmine dentro numa versão real a ser apresentada dentro de 12 meses e conclui: "Essa, sim, será uma embarcação ligeiramente mais pequena, mas autónoma.”
A médio-longo prazo, a equipa também tem planos de incluir ainda no projeto uma versão do barco movida a hidrogénio.
Sem esconder o entusiasmo, explica que “o hidrogénio também é algo que querem implementar na propulsão dos barcos". "Não diria que será a curto prazo, mas a mais médio e longo prazo, sem dúvida, que está nos nossos planos trabalhar a versão a hidrogénio", sublinha.
Para já movido a energia solar, o barco desenvolvido pela equipa da FEUP aponta a bússola para testes em Leixões, antes de zarpar para a estreia em competição ainda este ano e atracar noutras costas, lá mais para o outono, numa prova italiana, na ilha da Sardenha.
Como particularidades é realçado o casco feito inteiramente a partir de fibras naturais, com um sistema de transmissão sem engrenagens (“gear-less drivetrain”), estruturas sandwich em cortiça e fibra de linho e ainda a adoção de hidrofoils, que permitem triplicar a eficiência do sistema propulsor a determinadas velocidades.
Realça ainda que a natureza do casco, provém da utilização de fibra de linho, um componente totalmente natural, ainda não muito estudados, o que obrigou a trabalho de pesquisa e realização de testes computacionais e laboratoriais, de modo a garantir que a equipa conseguia inovar nesta área.
O projeto assenta assim numa missão que alia inovação à sustentabilidade, através do desenvolvimento de uma embarcação de competição movida a energia solar e que aborda os principais desafios tecnológicos neste domínio.
Fundada em novembro de 2023, a FEUP Academic Solar Team (FAST) é um projeto que envolve estudantes de vários cursos de engenharia da FEUP, que pretende motivar e demonstrar que a mudança do setor do transporte marítimo para soluções mais sustentáveis é viável, podendo “remar” em direção a um azul mais verde – “towards a greener blue” –, numa altura em que o transporte marítimo tem um papel preponderante nas trocas de mercadorias em todo o mundo, muito com recurso a combustíveis fósseis.
Quanto a João Alegre, líder da equipa, recordar que em março deste ano, recebeu o prémio de Cidadania Ativa da Universidade do Porto, no âmbito da defesa do ambiente, pelo seu envolvimento nos trabalhos da FEUP Academic Solar Team.
Para já, o estudante afirma que este projeto solar significa que os envolvidos podem levar um barco produzido em Portugal a competições internacionais, com a ajuda de empresas portuguesas, que é algo de que o enche de orgulho.
Esta é a segunda equipa em Portugal a desenvolver este conceito de embarcação, e a primeira da zona norte do país, e competirá, já neste verão, nas provas europeias da modalidade.
Para o ver em ação, a estreia está prevista no “Portugal Boat Challenge”, no início de setembro, a primeira prova desta modalidade realizada no país, o que atesta a sua aposta e evolução. Seguir-se-á a prova italiana “Sardinia Innovative Boat Week”, na ilha italiana de Sardenha, em outubro. Antes disso, em agosto, a FEUP Academic Solar Team levará a cabo uma demonstração das capacidades do protótipo nas águas do mar do Porto de Leixões.
