Manuela Ferreira Leite considera que as taxas de juro negativas não fazem sentido e vão ter consequência negativas para os consumidores.
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No espaço de comentário que ocupa na TSF, "A Opinião", Manuela Ferreira Leite defendeu que a proposta do Bloco de Esquerda para a existência de taxas de juro negativas nos empréstimos à habitação - que deverá ser aprovada no parlamento esta semana - vai acabar por prejudicar os consumidores de outras formas.
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A economista começou por esclarecer que a taxa Euribor, adotada por um grande número de bancos europeus, é a taxa de referência para os empréstimos hipotecários. "Em Portugal, 95% dos empréstimos para compra casas estão indexados a esta taxa Euribor", que varia ao longo do tempo, consoante o valor no mercado, explicou Manuela Ferreira Leite. Assim, sempre que a Euribor aumenta, as taxas de juro aumentam.
A antiga presidente do PSD lembra que, ultimamente a Euribor tem atingido valores negativas mas que, de acordo com as orientações do Banco de Portugal, os bancos não podem por taxas abaixo de zero.
É exatamente isso que o Bloco de Esquerda pretende mudar, com a proposta de que o valor negativo da taxa seja, na totalidade, refletido nos juros - portanto, os clientes passariam a receber dinheiro do banco, quando fazem um empréstimo.
Uma ideia que Manuela Ferreira Leite classifica como "bizarra". "O Banco empresta e ainda paga pelo facto de ter emprestado? Evidentemente, para quem pediu o empréstimo, é uma notícia fantástica. Mas é um conceito quase incompatível com o conceito de 'empréstimo'", comentou a economista.
A antiga ministra das Finanças diz que as pessoas devem lembrar-se de que "não há almoços grátis" e que os consumidores acabarão sempre por pagar a fatura desta medida.
"Ou os consumidores vão ser enganados, vão pagar mas não vão perceber porquê (com mais spreads e outro tipo de encargos), ou não pagam e evidentemente que os bancos se vão ajustar a esta nova realidade", afirmou Ferreira Leite. "E não se vão ajustar contra os seus interesses. Vão ajustar-se contra os interesses dos consumidores", acrescentou.
Manuela Ferreira Leite avisa para as eventuais consequências da aplicação das taxas negativas: "Os bancos vão sempre ter que se ajustar [à medida] de alguma forma. E, portanto, despedem pessoas, fecham balcões,...".
E a comentadora não se coibiu de lançar uma farpa à Esquerda. "São os mesmos que, neste momento, lutam para que sejam introduzidos os juros negativos, que, provavelmente, vão estar à frente da luta contra as consequências desta medida", atirou.