Comissão Europeia afirmou em novembro que insistir na reestruturação do banco seria perder tempo. A única solução para o Banif, defendeu Bruxelas um mês antes da decisão do governo, era a resolução.
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Em novembro de 2015 - um mês antes da tentativa de venda da posição do Estado no banco e da resolução e venda ao Santander, que ocorreram em meados de dezembro - já a Direcção-Geral da Concorrência (DG Comp) dizia "com toda a clareza" que "não valia a pena continuar a discutir um plano de restruturação, que não seria aprovado", e que o banco "teria de ser colocado em resolução até ao final do ano".
As declarações de responsáveis da DG Comp foram trazidas à Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso Banif pelo diretor do departamento de supervisão prudencial do Banco de Portugal. Carlos Albuquerque, que respondeu aos deputados da Comissão, acrescentou ainda que nesse encontro, que decorreu a 17 de novembro, os elementos da instituição europeia "não viam com muita viabilidade uma recapitalização pública, apesar de não a terem rejeitado em absoluto.
A antiga ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque fez, na comissão de inquérito, referência a uma carta enviada a 12 de novembro pela DG Comp ao governo de então (e do qual fazia parte) referindo que até esse momento "todas as entidades trabalhavam com um prazo confortável. Nunca até esse dia se colocou a questão de a situação ter de ficar resolvida até ao final do ano. Esse prazo surge pela primeira vez nessa carta", revelou.
É essa carta, que surgiu poucos dias antes da reunião referida por Carlos Albuquerque, que marca o volte-face na negociação com Bruxelas de um plano para salvar o Banif, sustentou a antiga governante. Na missiva a DG Comp coloca o final do ano como prazo para resolver a situação do Banif, mas não afirma que essa decisão tenha de passar por uma resolução.
A semana do fim do Banif
Carlos Albuquerque reiterou a maior parte da história já contada por outros elementos do regulador: o Banif estava numa situação difícil, a DG Comp não aceitou as várias versões dos planos de reestruturação propostos pela administração do banco, cuja situação de capital e liquidez se foi deteriorando, atingindo um ponto baixo na última semana de vida do banco, a partir de 13 de dezembro, data da notícia da TVI que dava conta da possibilidade de o banco fechar portas: "após as notícias televisivas conhecidas, a posição de depósitos e liquidez deteriorou-se de forma muito acentuada", afirmou.
O responsável pela supervisão (cargo que ocupa desde o final de 2014) acrescentou ainda que durante essa semana, "o banco deixou de ter colaterais para aceder ao Eurosistema e iniciou o recurso ao financiamento de emergência". Mas, sublinhou, "no final da semana o Banif já praticamente não tinha colaterais mesmo operações de emergência e seguramente não teria possibilidade de sobreviver à manhã de segunda-feira".