Banif. Santander acordou compra de dívida pública na resolução, negociou depois
Ministro das Finanças tinha dito que a negociação não foi feita na resolução. Vieira Monteiro fica a meio caminho: acordada na resolução, negociada depois.
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Em fevereiro o Santander Totta comprou 1766 milhões de euros de dívida pública: os mesmos 1.766 milhões de euros que o Estado teve de injetar no Banif no contexto da resolução e venda.
A operação fez franzir alguns sobrolhos e é uma presença constante na Comissão Parlamentar de Inquérito ao Banif. Foi lá que, há semanas, Mário Centeno garantiu que a negociação das condições da compra de dívida não foi feita no âmbito da resolução, e que a operação foi feita a "preços de mercado".
Questionado sobre o mesmo tema, o presidente do Santander afirmou de forma clara que a compra foi acordada no contexto da resolução: "foi acordada com o Santander Totta a aquisição, em data posterior, de títulos de dívida pública no montante de 1766 milhões de euros", afirmou na comissão, garantindo, no entanto, que a negociação dos detalhes só foi feita depois.
As afirmações motivaram uma troca de palavras acesa entre os deputados da oposição e João Galamba, do PS. Afinal, Vieira Monteiro desmentiu Centeno ou não? A oposição considera que sim, dizendo que o ministro afirmou que as duas operações não estavam relacionadas, e o Partido Socialista responde que não: o que Centeno afirmou, defendem os deputados, é que as condições da operação foram discutidas em fevereiro, facto confirmado pelo presidente do Santander.
E que disse afinal Mário Centeno?
No dia 7 de abril, na comissão, Mário Centeno foi questionado pelo deputado social-democrata Miguel Morgado sobre a operação. O ministro das Finanças negou que a colocação estivesse relacionada, "na forma como foi feita", com a resolução. Eis a parte mais relevante do diálogo entre o deputado e o governante:
Mário Centeno: "O Estado fez uma colocação de divida com o Santander no valor de 1766 milhões de euros a uma taxa de mercado".
Miguel Morgado: "Temos declarações do Santander que indicam que esse acordo foi feito na altura da resolução. Confirma?"
M Centeno: "Não".
M Morgado: "Nega essas declarações?"
M Centeno: "Há uma colocação de dívida que não tem ligação, na forma como é feita, com o contexto de resolução e que foi feita à taxa de mercado"