É o primeiro passo para o caminho de descida das taxas de juro do BCE. Há oito meses que o Banco Central Europeu mantém inalteradas as taxas depois de terem atingindo um pico de 4%.
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É grande a expectativa sobre as palavras, esta quinta-feira, da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, que vai revelar novos valores de previsão da inflação até o fim do ano, valores que podem influenciar a tendência de descida das taxas de juro praticadas pelo BCE.
A taxa de inflação na zona euro atingiu um pico ao ultrapassar os 10% em outubro de 2022, desde essa data tem vindo a recuar e está a aproximar-se da meta de 2% fixada pela instituição liderada por Christine Lagarde.
A inflação tem vindo a baixar. Em novembro de 2023 atingiu os 2,4%, em dezembro de 2023 voltou a subir para 2,9% e em março estabilizou nos 2,4%.
Ou seja, o combate à inflação continua a ser o farol que guia a descida das taxas de juro.
Para o economista da consultora IMF (Informação de Mercados Financeiros), Filipe Garcia, “o controlo de preços aparece em primeiro lugar nas preocupações do BCE, porque é aí que está ao seu mandato. O seu mandato é precisamente virado para a promoção da estabilidade de preços dentro dos vários objetivos que o BCE tem há uma hierarquização muito clara e o objetivo mais importante é o do controlo da inflação”.
Mas, a “estabilidade de preços não significa só evitar inflação alta também significa evitar inflação demasiadamente baixa e é por isso que esta política monetária tem que ser levada com cautela. Nesta fase, as previsões do BCE para a inflação, para este ano, (as previsões de Março) apontam para 2,3% em 2024 e 2% em 2025”, recorda Filipe Garcia.
Ou seja, poderá haver mais cortes de taxas ao longo do ano, mas sempre dependentes dos dados económicos que sejam divulgados. Entretanto, “nesta altura, o cenário central é de um corte nesta reunião de 6 de Junho, depois um outro corte em Setembro e algumas dúvidas sobre o que acontecerá na reunião de Dezembro”.
Quanto ao montante em causa, “os cortes deverão ser de 25 pontos base. Tem havido uma certa relutância dentro do BCE em avançar para cortes mais agressivos, por um lado, porque ainda há receios de que a inflação não esteja totalmente debelada. Na verdade, alguns economistas defenderem que há espaço para cortar mais, mas o BCE também não quer alargar o diferencial de juros face ao dólar, uma vez que nesta altura se espera que a Reserva Federal dos Estados Unidos, se cortar taxas este ano só o vai fazer uma vez e, portanto, o BCE também não quer gerar mais instabilidade, nomeadamente a nível cambial e do diferencial da taxa de juro entre os dois blocos”, argumenta o economista da IMF.
Mas estes cortes não devem ter impacto nos mercados e pesam muito pouco no alivio dos consumidores.
“Esta descida em termos das taxas de retalho, e temos aqui dois lados, o lado das taxas activas, nomeadamente as Euribor, e o lado das taxas passivas do lado dos depósitos. Do lado das Euribor, este cenário de dois cortes, eventualmente três está completamente descontado no mercado. Ou seja, nós hoje temos os níveis das Euribor até muito semelhantes entre 3,72 e 3,78 se estivermos a ver as maturidades entre 3 meses e 12 meses e se olharmos, por exemplo, para o final do ano, aquilo que se está à espera, é que haja uma redução para 3,5 e nos 3 meses e 3,67 nos 12 meses. Portanto, não se espera uma grande reação, a não ser que haja alguma alteração do discurso”.
Por outro lado, “tudo isto já está bastante descontado ao nível das taxas de depósitos. Os bancos foram bastante cautelosos há algum tempo atrás, sobretudo nas maturidades mais longas nos depósitos a um ano, nos quais cortaram bastante a remuneração”.
Para Filipe Garcia, “há espaço, tendo em conta esta maior estabilidade que se prevê em termos de juros directores, para uma remuneração mais alta nos depósitos, com maturidades um pouco mais longas. Mas, não tem sido isso que os bancos têm mostrado aos seus clientes. E, na verdade, até seria bem-vinda uma atuação mais competitiva por por parte da banca, à fraca remuneração dos depósitos do retalho em Portugal”.