Angola vale 136 milhões dos 236 milhões apresentados por Fernando Ulrich. Cisão do negócio naquele país poderá ter impacto nas contas do banco, que voltou aos lucros três anos depois.
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O BPI apresentou os melhores resultados líquidos desde 2012: lucrou 236 milhões de euros em 2015, com forte contributo da atividade internacional. O Banco de Fomento de Angola, detido a 50,1% pelo BPI, contribuiu com quase 136 milhões. O BCI, uma parceria entre o BPI (que detém 30% da instituição), o grupo Moçambicano Insitec, e a Caixa Geral de Depósitos, que lidera o banco, com 51% do capital, foi responsável por 9,4 milhões.
A economia angolana, que sofreu, no ano passado, da desvalorização do kwanza e da crise petrolífera, não parece no entanto ter deixado de contribuir, de forma decisiva, para os resultados do banco português: de Luanda vieram 135,7% milhões de euros, o equivalente a 57% do resultado líquido. O BCI tem uma participação muito mais modesta, de apenas 4%.
Proposta da Unitel para BFA rejeitada: não era "boa solução"
O presidente executivo do BPI considerou, na conferência de imprensa de apresentação de resultados, que a proposta da Isabel dos Santos (através da Unitel, empresa que detém) para comprar de 10% do angolano BFA por 140 milhões de euros do capital não era "uma boa solução" e reafirmou que a cisão dos ativos africanos é a "solução que preenche os requisitos impostos pelo supervisor".
O presidente do BPI recusou dizer qual será a solução para a operação em Angola, e afirmou que o banco continua a ter uma assembleia-geral marcada para 5 de Fevereiro em que os acionistas se vão poder pronunciar sobre o projeto de cisão das operações em África. A operação é consequência da decisão do BCE, que ordenou a redução da exposição de bancos europeus a países que Frankfurt considera não terem regras equivalentes às europeias, incluindo Angola.
No ano passado a administração de Fernando Ulrich apresentou um projeto de cisão das operações em África, através de uma nova sociedade que juntaria as participações em Angola e em Moçambique.
De prejuízos a lucros
O BPI teve um lucro líquido consolidado de 236,4 milhões de euros em 2015, o que compara com os prejuízos de 163,6 milhões de euros registados em 2014.
A margem financeira subiu de forma significativa (29% para 663,4 milhões de euros), assim como o produto bancário (37,8% para 1.181,9 milhões de euros). Já o resultado operacional cresceu 175% para 511,3 milhões de euros. Os custos de estrutura recuaram ligeiros 0,1% para 670,6 milhões de euros. O rácio de transformação de depósitos em crédito situou-se em dezembro nos 85%.
Já o rácio 'common equity tier 1' (CET1) ascendeu a 11,1% se for considerado o 'phasing in' (fase de transição) para as novas regras europeias e a 10% caso seja levada em conta a sua aplicação integral.
BPI não recomendou compra de obrigações do Novo Banco aos clientes
Fernando Ulrich garantiu que o BPI não recomendou aos clientes que comprassem obrigações do Novo Banco, acrescentando que a instituição não perdeu dinheiro com a decisão do Banco de Portugal porque não tinha esses títulos.
"O BPI não vendeu obrigações dessas aos clientes. Mas pode ter havido clientes que deram ordens de compra no mercado secundário", afirmou o presidente do banco, que recusou comentar a decisão do Banco de Portugal, adiantando apenas que que o BPI não perdeu dinheiro com a retransmissão de obrigações seniores do Novo Banco para o 'banco mau' BES.
Novo Banco ainda é possibilidade
O BPI vai voltar a analisar as condições de venda do Novo Banco assim que forem conhecidas. O presidente do banco afirmou que ""O novo processo deve começar com brevidade e nesse momento analisaremos as condições".
Na primeira tentativa - falhada - de venda do banco que sobrou do colapso do BES, o BPI mostrou interesse mas acabou ver a sua proposta excluída pelo Banco de Portugal.
Fernando Ulrich acrescentou ainda que a instituição que lidera não foi convidada pelo regulador para o processo de venda do Banif. Recusando-se a elaborar sobre o assunto, Ulrich acrescentou apenas que "mesmo que tivesse sido convidado, provavelmente não teria apresentado uma proposta".