Governo alerta que os turistas britânicos vão adiar as reservas para as férias do verão de 2019 devido à incerteza sobre o processo de saída do Reino Unido da União Europeia.
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"Existem aqui alguns pontos de interrogação por parte dos operadores turísticos do Reino Unido com a incerteza e as consequências do Brexit. Isso pode gerar algum adiamento das reservas por parte dos britânicos enquanto não souberem a situação, o que vai acontecer e o impacto que pode ter na desvalorização da libra", disse a secretária de Estado do Turismo portuguesa. Ana Mendes Godinho, esta quarta-feira, em Londres.
O resultado é um "compasso de espera", que poderá remeter as reservas (que, normalmente, começam em dezembro) para o próximo ano, quando estiverem mais claras as condições do processo de saída.
Esta análise foi transmitida durante uma visita à feira de turismo World Travel Market, que decorre na capital britânica, que Ana Mendes Godinho visitou esta quarta-feira e onde se encontrou com representantes da Associação das Agências de Viagens Britânica (ABTA) e da Associação de Agências de Turismo Independentes do Reino Unido (AITO).
"É importante para nós [sabermos] para gerirmos os momentos de comunicação mais importantes e estarmos a atingir o mercado com as mensagens nos momentos que nos interessa mais em termos de reservas", referiu, a propósito das campanhas de promoção feitas em parceria com operadores e na Internet.
"A nossa preocupação aqui é manter a fidelização do mercado do Reino Unido a Portugal. Até agosto sentimos uma quebra [de 6%] no número de hóspedes na hotelaria, mas o crescimento nas receitas foi de 10%", vincou.
O turismo é uma das áreas com maior risco de impacto negativo devido à saída do Reino Unido da União Europeia (UE), segundo o estudo "Brexit - As consequências para a economia e as empresas portuguesas", promovido pela CIP - Confederação Empresarial de Portugal divulgado na semana passada.
O estudo refere que, em 2016, passaram por Portugal cerca de dois milhões de hóspedes britânicos, representando 21% do total, e 28% das dormidas em estabelecimentos hoteleiros.
O agravamento da desvalorização da libra face ao euro, que já perdeu cerca de 14% entre o referendo e o início de setembro deste ano, após o Brexit é a principal causa de preocupação, pois poderá desencorajar os britânicos a viajarem para países que usam a moeda única, como Portugal.
"A quebra do poder de compra dos ingleses é, por isso, uma ameaça, dado o impacto na dinâmica turística nacional que tem beneficiado a economia portuguesa e que tem contribuído para que o turismo tenha vindo a assumir uma importância crescente, representando, em 2016, 7,1% do VAB [Valor Acrescentado Bruto] total, com uma taxa de variação face ao ano anterior de 9,9%", refere o estudo.
No grupo de Serviços, a categoria "Viagens e Turismo" realizou exportações para o Reino Unido de 2.267 milhões de euros em 2016, representando uma quota de mercado de 57,3% e um peso de 22,6% nas exportações totais dentro da UE.
O Reino Unido vai deixar a UE em março de 2019, dois anos após o lançamento oficial do processo de saída, e quase três anos após o referendo de 23 de junho de 2016 que viu 52% dos britânicos votarem a favor do Brexit.