Estudo analisa quase duas décadas de incentivos em Portugal e revela retorno económico de cem milhões de euros. Os autores desta investigação pedem aos decisores políticos mais instrumentos fiscais que suportem o capital de risco e garantam que Portugal se posiciona ao nível dos grandes polos de inovação da Europa
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Um estudo da Investors Portugal, feito em parceria com a Nova SBE, analisou quase duas décadas de dados para avaliar o impacto económico dos fundos de capital de risco e dos fundos do sistema de incentivos à investigação e desenvolvimento. A investigação conclui que geraram retorno económico de quase cem milhões de euros, aumentando o PIB em 1,01% e exportações em 1,33 pontos percentuais em dez anos.
As conclusões deste estudo, apresentadas esta segunda-feira, indicam que o capital de risco mais do que duplica postos de trabalho e volume de negócios e mais do que triplica a rentabilidade nas empresas investidas.
Já os chamados incentivos aos SIFIDE — fundos de investimento que se enquadram no Sistema de Incentivos Fiscais à Investigação e Desenvolvimento — são considerados decisivos para os resultados e têm um impacto duradouro, tanto nas empresas investidas como nas que investem nos fundos.
Ainda de acordo com esta análise, as empresas apoiadas por fundos de capital de risco crescem mais rápido, contratam mais trabalhadores, pagam melhores salários e tornam-se mais produtivas.
A título de exemplo, o estudo cita 400 mil empresas com mais de dois colaboradores, das quais 136 utilizam Fundos SIFIDE, no período de amostra, entre 2006-2024, e teve em conta informações anuais sobre diversas variáveis ao nível da companhia, bem como todos os conjuntos de dados foram combinados, utilizando o NIF (número de identificação fiscal) de cada uma.
Para Lurdes Gramaxo, presidente da Investors Portugal, “este estudo é o primeiro em Portugal, realizado por uma entidade independente, que permite demonstrar de forma clara e incontornável a criticidade e relevância do capital de risco".
"O investimento em capital de risco não só promove o crescimento das empresas investidas a todos os níveis – volume de negócios, exportações, postos de trabalho, salários, rentabilidade —, como também reforça a sustentabilidade do tecido económico português no longo prazo, com ganhos duradouros para trabalhadores, investidores e inclusive o próprio Estado", sublinha.
O documento, que analisa quase duas décadas de dados, evidencia ainda que os incentivos fiscais são determinantes para a mobilização de capital privado e que só o SIFIDE tem sido essencial para canalizar investimento para fundos de capital de risco, permitindo às empresas investidas ganhar escala, aumentar a produtividade e melhorar as condições oferecidas aos trabalhadores.
Nas empresas financiadas por este tipo de fundos, o emprego cresce entre 50% a 60%, o investimento tangível aumenta 60% e o investimento em ativos intangíveis mais do que duplica. Ao mesmo tempo, o volume de negócios e os lucros crescem mais do dobro.
O relatório sublinha ainda que estender benefícios semelhantes a todos os fundos de capital de risco e garantir previsibilidade dos mecanismos de incentivo é crucial para consolidar e ampliar o impacto no ecossistema empreendedor português.
Segundo um dos autores do estudo, João Duarte, também professor associado da agregação da Nova SBE, “mostra, de forma clara, que o capital de risco tem um impacto estrutural na economia portuguesa: as empresas investidas contratam mais, pagam melhores salários, tornam-se mais produtivas e vendem mais, incluindo para o exterior".
"Através do SIFIDE, conseguimos atrair investidores para financiar inovação e I&D, o que gera retornos fiscais que superam largamente o custo do incentivo. Se quisermos colocar Portugal ao nível dos grandes polos de inovação europeus, é essencial reforçar, expandir e estabilizar estes mecanismos de forma duradoura”, refere.
Outro dos pontos centrais do estudo é a relação custo-benefício dos incentivos fiscais. Aqui, conclui-se que o custo inicial para o Estado português é temporário, mas os efeitos sobre empresas e economia são permanentes. O impacto positivo em emprego, impostos e crescimento económico supera largamente a despesa fiscal. No primeiro ano, as despesas adicionais de IVA, IRS, contribuições sociais e IRC superam o custo do incentivo.
Com esta apresentação, a Investors Portugal reforça o apelo para que os decisores políticos consolidem e ampliem os instrumentos fiscais que suportam o capital de risco, de forma a garantir que Portugal se posiciona ao nível dos grandes polos de inovação da Europa.
