Depois de registarem em 2024 o melhor ano de sempre, com mais de 600 milhões de visitantes, os centros comerciais mantêm um crescimento em 2025 com 14 novos empreendimentos em pipeline e quatro já em curso
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Sem dados sobre eventuais perdas durante o apagão, a garantia de que foram acionados e funcionaram os planos de contingência dos centros comerciais durante o tempo em que o país esteve sem luz, este é um sector que continua a puxar pela economia nacional, garante Carla Pinto, diretora-executiva da Associação Portuguesa de Centros Comerciais (APCC).
Em entrevista à TSF, dá conta dos resultados do primeiro trimestre do ano, período em que as receitas dos lojistas aumentaram cerca de 9%, enquanto o gasto médio por cliente subiu 6,3% face a 2024, com um ticket médio de 35,01 euros. Estes números dão continuidade também ao aumento significativo do número de visitantes, que foram mais de 600 milhões no ano passado, com a moda a ser o segmento que mais contribuiu para esta performance, com uma quota de 30% nas vendas, seguida dos hipermercados com 29%, mas “também a restauração e o entretenimento têm tido crescimento significativo".
Os turistas também contribuíram para a subida de 7% do comércio em centros comerciais que tornaram 2024 no melhor ano de sempre do sector, representando 12% das vendas. No entanto, essa é uma média nacional, porque “em locais mais turísticos, como Lisboa, Porto e Coimbra, essa percentagem dispara, uma vez que as grandes cidades são centros turísticos por natureza e as mais visitadas em Portugal".
O sector tem dado um contributo médio de 9% da receita fiscal de IVA ao país e emprega mais de 290 mil pessoas, mas o peso real dos centros comerciais no PIB nacional só vai ser conhecido no congresso do sector, a 4 de junho, no Convento do Beato, quando será apresentado um estudo encomendado pela APCC à Universidade Nova de Lisboa e onde serão debatidos desafios como a adaptação do sector a tecnologias como a Inteligência Artificial e o e-commerce.
Carla Pinto garante estar empenhada no desenvolvimento do sector em linha com as metas da neutralidade carbónica definidas por Bruxelas até 2030, tendo a direção definido um plano estratégico para o triénio 2025-2027 assente em três eixos: comunidade, digitalização e descarbonização, dando continuidade ao plano de sustentabilidade que lançou há dois anos e que assegura que já permite poupanças significativas entre os mais de 170 associados, a nível energético e de desperdício.
“Assinamos esse pacto em 2023 e estamos neste momento a fazer as auditorias, porque as empresas têm diferentes velocidades. Nós temos empresas que estão muito à frente nestas práticas de sustentabilidade, mas temos outras que estão um pouco mais atrás e é preciso ajudá-las na sua jornada de sustentabilidade e o protocolo que fizemos com a ADENE, no plano de poupança energética, revela isso mesmo", explica à TSF Carla Pinto.
A diretora-executiva da APCC garante que o plano estratégico do sector está em execução, revelando que, entre agosto de 2022 e fevereiro de 2024, os centros comerciais geraram uma poupança de 58% no consumo de gás e eletricidade. Cerca de 97% dos operadores têm práticas de gestão de forma a cumprir objetivos de sustentabilidade, quase 87% deles tem produção fotovoltaica ou projetos de instalações solares e 65% é a taxa média de reciclagem de resíduos, além dos 88% que têm medidas para redução dos consumos energéticos e dos 87% que têm intervenções para redução dos consumos de água.
A ambição, ao nível da digitalização, passa por monitorizar soluções tecnológicas inovadoras, para transformar estes espaços comerciais em hubs inteligentes, dinâmicos e conectados para permitir experiencia diferenciada para consumidores e lojistas, ao mesmo tempo que garanta eficiência operacional e a competitividade do sector.
Já na descarbonização, Carla Pinto assegura que estão em curso práticas que promovem o equilíbrio entre desenvolvimento económico, respeito pelo ambiente e responsabilidade social, com operações mais alinhadas com as metas climáticas, até porque, acredita, abre linhas novas de negócio.
Esta responsável dá ainda conta que a associação está muito satisfeita com os resultados dos seus lojistas, incluindo o aumento de visitas e da faturação, mas “para garantir que estes espaços se mantêm atrativos, sendo um dos grandes desafios, a volatilidade económica e política, temos de preparar o futuro, daí o congresso abordar precisamente estes temas".
Carla Pinto garante ainda que o investimento em imobiliário comercial em Portugal atingiu os 651 milhões de euros no primeiro trimestre de 2025 e os centros comerciais (incluindo retails parks) têm 14 projetos em perspetiva, quatro já com obras em curso, o que significa que o sector representou cerca de 50% desse valor investido.
