"Como conciliar a tirania dos números com a humanização dos cuidados de saúde"
No comentário semanal na TSF, o economista falou sobre a Economia da Saúde e como, por vezes, os números se sobrepõem às pessoas e aos cuidados de saúde.
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Bagão Félix não quis comentar diretamente o caso do Hospital de Faro até porque foi "refutado pelo Conselho de Administração", em que três diretores de serviço pediram a demissão devido à falta de resposta para a sobrelotação de doentes e à alegada pressão para atribuírem altas precoces, por causa do aumento da procura e a consequentes dificuldades no internamento.
No entanto, o economista lembrou que "são notícias recorrentes" e recordou que, há cerca de dois anos, "a propósito de um parecer do Conselho de Ética para as Ciências da Vida, se falou numa expressão que foi textualmente 'racionamento ético' no uso de alguns medicamentos, por exemplo, oncológicos ou contra a sida, responsáveis por uma parte significativa de gastos com medicamentos para prolongar a vida dos doentes. No fundo, neste caso estaríamos perante a fórmula 'viver mais um mês custa x, viver mais seis meses custa y', e daí falar-se em 'racionamento ético'".
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"É evidente que a Economia da Saúde está cada vez mais dependente. Temos todos que ponderar entre a opção da natureza sempre escassa dos recursos e as aspirações das pessoas, particularmente neste setor que tem uma enorme diferença em relação aos outros, porque neste está em causa o mais absoluto valor que é o da vida", continuou Bagão Félix.
O economista questionou, por isso, "como é que podemos e devemos conciliar a tirania dos números com a humanização dos cuidados [de saúde]? Quais são as melhores práticas? Eu bem se que isto é muito difícil". E relembrou os números: "o sistema de Saúde leva-nos 24% da totalidade dos impostos e 84% do que pagamos em IRS".
"Mas isso não justifica tudo e muito menos justifica tendências mais ou menos larvares, redutoras do valor da vida, imersas da primazia da quantidade e em que, às vezes, as pessoas são reduzidas à condição indigna de quase número", defendeu.