O concurso lançado, esta segunda-feira, para a compra de 22 novos comboios fica aquém das expectativas iniciais e das necessidades da frota ferroviária.
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Há 11 anos que a CP - Comboios de Portugal não lançava um concurso para a compra de material circulante e o último que lançou, em 2008, foi anulado em 2009 em consequência da crise económica.
No relatório de contas da CP relativo a 2008, podia-se ler que nesse ano foi feita "a preparação do lançamento dos concursos para aquisição de automotoras elétricas para substituição do material ao serviço na Linha de Cascais (com unidades bi-tensão 25kVac+1,5kVdc) e para reforço da frota dedicada ao Serviço Urbano em Lisboa e no Porto, bem como para aquisição de automotoras bi-modais (diesel+25kVac) ou diesel com transmissão elétrica e possibilidade de evolução para modo elétrico, que irão substituir, parcialmente, o parque atual de automotoras diesel dedicado ao Serviço Regional."
Em 2008, falava-se em mais de 70 comboios e num valor de investimento avaliado em 370 milhões de euros. Este plano emagreceu durante o mandato de Manuel Queiró à frente da CP e a proposta de compra passou, em 2016, de 70 para 35 comboios, sendo 10 de longo curso e 25 suburbanos e regionais.
O concurso lançado agora em 2019 contempla 22 comboios regionais e um investimento de 168 milhões de euros, o que não é suficiente para renovar a frota da CP, de acordo com o especialista em transporte ferroviário, o Professor da Universidade do Algarve (UA), Manuel Margarido Tão.
"Dá-me ideia que estamos a ajustar um bocado as necessidades a um orçamento disponibilizado pela tutela", afirma.
Para Manuel Margarido Tão, "estas composições vão atender o serviço regional e inter-regional onde nalgumas linhas não eletrificadas o serviço é garantido por unidades a diesel com 60 e 52 anos".
Por outro lado, esta aquisição não incluiu material para o longo curso. "O longo curso tem um material que já não é jovem. A frota dos ALFA é de 1998 e é sujeita a esforços mecânicos muito intenso, e depois, além disso temos as carruagens de longo curso que são rebocadas por locomotivas elétricas; as mais modernas que existem são do tipo alemão EuroSprinter de 1993" e as carruagens da Sorefame são de 1985, explica o investigador da UA.
Mas, é preciso ver a saída do concurso dos comboios para o longo curso porque face à atual legislação, saída no final do ano, "o longo curso ao contrário do serviço regional não é contratualizado".
O longo curso passa a estar sujeito ao mercado livre e à concorrência de outros operadores. Por exemplo, a anunciada associação da CP com a Renfe, ou a entrada da alemã Arriva, que mostrou interesse na linha Corunha - Porto - Lisboa.
Os novos comboios para a CP começam a chegar em 2023
Das 22 automotoras esperadas, 12 unidades estão preparadas para andarem a diesel e eletricidade (Bimodo). Uma compra que, para Manuel Margarido Tão, ainda se justifica por uma questão de segurança, mas que apresenta dúvidas da CP na capacidade de eletrificação das linhas.
"O plano de infraestruturas 2030 aponta para uma quase totalidade de cobertura com catenária. A questão é que isto é um plano. O operador [CP], no fundo não sabe e não tem a certeza sobre aquilo que o detentor das infraestruturas [IP] tutelado ele próprio pelo Estado vai fazer; e à cautela a CP está a precaver-se adquirindo algumas unidades Bimodo", defende.
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O concurso esta segunda-feira lançado "implica execução financeira em mais de um ano económico, entre 2019 e 2026, inclusive, num montante global máximo de 168.210.000 euros (...) dos quais 58.873.500 euros correspondem a financiamento nacional e 109.336.500 euros correspondem a futuro financiamento europeu", adianta o diploma do Governo.
Com esta aquisição, a CP pode libertar-se do contrato de 5 milhões de euros por ano para o aluguer em Espanha de material a diesel que circula nas linhas do Minho, Douro e Oeste.