Conselho das Finanças Públicas alerta para insuficiente ajustamento estrutural

A presidente do Conselho das Finanças Públicas, Teodora Cardoso, fala durante a Conferência "Evolução do Sistema Bancário", terceira conferência do ciclo "Economia Hoje, Futuro Amanhã", organizado pelo Núcleo de Estudantes de Economia da Associação Académica de Coimbra, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, em Coimbra, 14 de março de 2018. PAULO NOVAIS/LUSA
Paulo Novais/Lusa
O organismo liderado por Teodora Cardoso avisa que a redução do défice prevista no orçamento está também dependente de fatores que o governo não controla, como a conjuntura externa.
O ajustamento estrutural deverá ficar-se pelos 0,1 e 0,2 pontos percentuais do PIB em 2018 e 2019, respetivamente, aquém do estabelecido na lei de enquadramento orçamental e no Pacto de Estabilidade, estima o Conselho das Finanças Públicas.
"O CFP [Conselho das Finanças Públicas] estima que a melhoria programada do saldo estrutural subjacente à POE/2019 [Proposta de Orçamento do Estado para 2019] ascenda a 0,2 p.p. [pontos percentuais] do PIB [Produto Interno Bruto] em 2019 e 0,1 p.p. em 2018", sustenta o organismo liderado por Teodora Cardoso.
Segundo o relatório de análise da POE/2019 hoje divulgado pelo CFP, "este progresso é, em cada um dos anos, inferior ao necessário para garantir a melhoria de 0,5 p.p. do PIB estabelecida na lei de enquadramento orçamental e a melhoria de 0,6 p.p. do PIB decorrente do Pacto de Estabilidade e Crescimento, o que coloca em risco o cumprimento dos requisitos da vertente preventiva deste no que diz respeito à evolução da despesa e à melhoria recomendada para o saldo estrutural".
Ainda assim, nota, "esta trajetória é compatível com o ajustamento estrutural linear mínimo relativo ao cumprimento do critério da dívida no último ano do período transitório (2019)".
Estes valores comparam com a variação de 0,3 p.p. em 2019 e de 0,5 p.p. do PIB em 2018 apresentados pelo Ministério das Finanças no relatório da proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2019.
De acordo com o CFP, a melhoria do saldo orçamental prevista no OE para o próximo ano "continua a depender dos efeitos da conjuntura económica, da redução da despesa com juros, de dividendos a receber do Banco de Portugal e da Caixa Geral de Depósitos e da redução de apoios ao setor financeiro".
E se os juros e a conjuntura estão "por natureza sujeitos a flutuações que as políticas nacionais só limitadamente podem influenciar, mas cujos efeitos devem estar preparadas para atenuar", o CFP alerta para que, pelo contrário, "os efeitos das medidas que a ação discricionária do decisor político se propõe introduzir em 2019 têm mesmo um contributo negativo (ainda que limitado) para a redução do défice orçamental".
Advertindo que este contributo seria ainda ampliado se as poupanças em juros não fossem consideradas pelo MF [Ministério das Finanças] como uma medida de política", o organismo acrescenta que o exercício orçamental de 2019 será também "onerado pelo significativo contributo negativo para o saldo (-981 milhões de euros) decorrente do efeito desfasado de medidas introduzidas em anos anteriores".
Segundo o CFP, o ritmo de ajustamento previsto para 2019 "não é compatível" com o cumprimento do valor de referência para a despesa primária corrigida, sendo que "o crescimento nominal programado da despesa primária líquida de medidas discricionárias do lado da receita e de medidas temporárias ou não recorrentes excede o aumento de 0,7% recomendado pelo Conselho da União Europeia e a taxa de referência aplicável (igualmente 0,7%)".
"A diferença corresponde a um desvio de 0,8 p.p. do PIB, o que excede a margem de 0,5 p.p. a partir da qual há risco de desvio significativo em 2019", sustenta, acrescentando que a natureza desse desvio se mantém, mesmo considerando a média dos anos de 2018 e 2019.
O organismo liderado por Teodora Cardoso reporta a "melhoria transversal" do saldo orçamental prevista na POE/2019 para todos os subsetores das Administrações Públicas, "em particular na Administração Central e na Administração Regional e Local".
"O subsetor da Administração Central continuará a ser responsável pela maior contribuição para o défice orçamental do conjunto das Administrações Públicas em 2019 (-1,4% do PIB), para o qual concorre a despesa com transferências ao abrigo das leis de financiamento dos restantes subsetores", refere.
Dos 0,5 p.p. do PIB de melhoria do saldo orçamental das Administrações Públicas, o CFP nota que "0,3 p.p. do PIB correspondem ao contributo da redução do défice da Administração Central e os restantes 0,2 p.p. do PIB ao reforço do excedente da Administração Regional e Local".
Já o contributo dos Fundos de Segurança Social "é aproximadamente nulo em rácio do PIB, devido ao efeito do crescimento do denominador, apesar do acréscimo nominal previsto para o excedente do subsetor".
Na proposta de OE2019, o Governo mantém a estimativa de défice orçamental de 0,2% do PIB no próximo ano (correspondendo a 385 milhões de euros), uma redução de 1.071 milhões de euros face ao previsto pelo Ministério das Finanças para 2018.
O Governo estima ainda um crescimento do PIB de 2,2% em 2019, uma taxa de desemprego de 6,3% e uma redução da dívida pública para 118,5% do PIB.
O CFP é um organismo independente cuja missão é fazer uma avaliação independente sobre a consistência, o cumprimento e a sustentabilidade da política orçamental, promovendo a sua transparência.