Teodora Cardoso reitera que opção de reduzir défice é correta, mas critica Programa de Estabilidade (PE) por ir a reboque da economia e depender das políticas do passado.
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O Conselho das Finanças Públicas (CFP) entende que "a estratégia delineada no PE/2018 permanece insuficiente, uma vez que a evolução do saldo orçamental depende fundamentalmente da dinâmica favorável da atividade económica e das políticas adotadas no passado".
Na análise ao Programa de Estabilidade 2018-2022, o organismo independente liderado por Teodora Cardoso sublinha que os objetivos para o défice e para a dívida dependem sobretudo das previsões para o comportamento da economia, "o que constitui um risco significativo, na medida em que a economia portuguesa é muito vulnerável a choques exógenos". O CFP conclui que "o contributo das novas medidas de política orçamental é marginal".
Neste contexto, Teodora Cardoso defende que não é correto encarar a descida dos juros como uma medida, como faz Mário Centeno, porque "a sua evolução apenas parcialmente depende de fatores sob o controle do Governo e a evolução da taxa de juro, na situação atual dos mercados financeiros, tem de ser considerada, em si mesma, como um risco".
O CFP acredita também que a previsão de receitas com impostos pode ser considerada como "otimista" e avisa que, do lado dos gastos, "subsistem pressões nas rubricas da despesa com pessoal e das prestações sociais, que podem afetar desfavoravelmente a redução prevista para o rácio da despesa".
O relatório traz ainda um alerta em relação aos apoios públicos à banca, porque "o PE/2018 não refere efeitos de apoios adicionais ao setor financeiro além de 2018". O CFP avisa que, "a ocorrerem, terão impacto no saldo, na dívida ou em ambos".
As críticas, manifestadas no relatório que analisa o Programa de Estabilidade 2018-2022, surgem depois de Teodora Cardos ter já defendido no Parlamento, a 19 de abril, que o documento "parece ir na direção correta", porque "a austeridade não se cria nos períodos de austeridade, mas nos períodos anteriores de grande expansão". Admitiu ainda, na altura, como prováveis as previsões macroeconómicas do Governo.
No entanto, nessa primeira análise ao Programa de Estabilidade, acompanhou também as críticas da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO), dizendo que não é possível avaliar o impacto de várias medidas do lado da despesa.
Teodora Cardoso insiste agora nesta questão, sublinhando que "um verdadeiro programa de revisão de despesas supõe a existência de uma infraestrutura de gestão pública, que não existe ainda em Portugal".