Consumidores que consideram ter um rendimento adequado crescem quase 50% (vídeo)
O Consumer Intelligence Lab conclui que entre 2012 e 2013 o número de pessoas que consideram ter um rendimento suficiente cresceu de 28% para 41%.
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O número pode surpreender: em pleno ambiente de crise, o número de portugueses que considera ter um rendimento adequado às necessidades cresceu, entre 2012 e 2013, de 27,9% para 40,9%.
Outro número que aponta para a mesma conclusão: o número de pessoas que entende que o seu rendimento está muito abaixo das necessidades caiu de 23,3% para 9%.
Por outro lado, os inquiridos que entendem que o rendimento cobre mais do que o fundamental caiu de 4,2% para 2,5%, enquanto que o número de consumidores que considera que o rendimento está abaixo do necessário cresce de 44,6% para 47,6%.
São números do Consumer Intelligence Lab (ou C-Lab), um projeto que tem por objetivo estudar, em profundidade, o comportamento dos consumidores em ambiente de crise. O C-Lab foi lançado em 2009 pelo antigo ministro da economia Augusto Mateus, pela Return on Ideas, e pela empresa de estudos de mercado Ipsos Apeme.
O fundador Rui Dias Alves explica que estes números, que podem surpreender, ficam a dever-se a alterações profundas no modo como os portugueses olham para o consumo, e para a «quantidade de felicidade» que dele conseguem extrair.
Os inquéritos feitos de forma regular pelo C-Lab a centenas de famílias mostram, explica Rui Dias Alves, que «as necessidades não estritamente associadas a rendimento ganham importância. Estar com a famílias ou os amigos ganha um peso desproporcional face a há quatro ou cinco anos e as pessoas hoje percebem isso como uma necessidade, que não é forçosamente indexada ao rendimento».
São conclusões que apenas se aplicam a quem continua a ter emprego. Mas de entre estes, que apesar da crise e da alta taxa de desemprego continuam a constituir a maioria, a conclusão é que «independentemente de todas as discussões políticas - mais ou menos exacerbadas - a vida das pessoas continua. E continua naquilo que tem de mais elementar: continuo a ter os meus filhos, a minha mulher, os meus amigos. E por definição dos termos queremos continuar a ter neste âmbito felicidade, alegria, continuidade, e as pessoas sabem ajustar-se. E nem todos os parâmetros da felicidade podem ser indexados ao rendimento ou ao crescimento económico»
Hábitos de consumo mudaram - e não vão voltar atrás
Rui Dias Alves explica que a quebra de rendimento levou a alterações de comportamento dos consumidores. E que essas alterações vieram para ficar, porque a perceção das necessidades mudou algumas das categorias de consumo da qual as pessoas extraíam felicidade. «Algumas das categorias para as quais as pessoas olhavam deixaram de ser tão relevantes.», afirma. E dá um exemplo: «os automóveis, caíram quase 50% nos últimos 4 anos. E se é certo que para o ano se perspetiva uma retoma da economia e do consumo privado, eu diria que no prazo de 4 anos os automóveis não vão recuperar o que caíram. E porquê? Porque para muita gente houve um recondicionar da forma de olhar para a mobilidade que vai ser perene».
Jovens mais formados e com menos dinheiro consomem menos mas não são menos felizes
O consumo, diz Rui Dias Alves, é um fator de coesão social: «Definimos o consumo e o ter coisas como algo fundamental para nos identificarmos na sociedade. Era relativamente fácil todos termos carros parecidos; a generalidade das pessoas ambicionava poder ambicionar ter televisões ou telemóveis de ultima geração. E nessa medida o consumo definia muito da nossa felicidade e muito daquilo que era a nossa necessidade e objetivo de nos identificarmos com outros».
Mas esse paradigma mudou, sobretudo entre a população mais jovem. Rui Dias Alves considera «curioso ver que os mais jovens, porque são mais formados, têm mais mundo, têm mais tecnologia aprenderam a ser felizes sem terem de o ser exclusivamente em cima do consumo»