COP30. "Chegou a hora da verdade": o grito de Lula a partir do pulmão do mundo

Com Portugal a anunciar um contributo de um milhão de euros para o fundo da Floresta Tropical, o presidente do Brasil, Lula da Silva, afirma que "chegou a hora da verdade" quando os cientistas apontam para mais de 250 mil mortos por ano, vítimas das alterações climáticas, se a temperatura do planeta subir aos 2,5 graus até 2100, na linha do que tinha pedido momentos antes, António Guterres, implementação, implementação e implementação, de medidas concretas que apoiem os povos e diminuam o aquecimento global.
Corpo do artigo
Pela primeira vez na história, a COP30, ou Conferência Mundial do Clima, acontece em Belém, capital do Pará, às portas da floresta amazónica e esse foi um facto evocado logo no início por Lula da Silva, na abertura do plenário de lideres que antecede a inauguração oficial.
O presidente do Brasil começou por realçar que "não há maior símbolo da causa ambiental do que a floresta da Amazónia no imaginário global. Sublinhou que é na Amazónia, que temos milhares de rios e igarapés, que formam a maior bacia hidráulica do planeta. Aqui vivem milhares de espécies de plantas e animais que são parte do bioma mais diverso da Terra. Aqui vivem milhões de pessoas e centenas de indígenas que nas suas vidas estão a enfrentar um falso dilema falso, entre prosperidade e preservação, porque são eles que todos os dias, juntam no modo de vida, uma existência e vivência que procuram queseja legítima, com dignidade e com a principal missão de proteger uma das maiores heroínas da humanidade, que é a natureza.
Para o chefe de estado do Brasil, nesta altura, é justo que os povos da Amazónia considerem que "chegou a hora de perguntar o que está a ser feito pelo resto do mundo para evitar o colapso das suas vidas."
Lula da Silva considera que não se podem abandonar, os objetivos do Acordo de Paris e é preciso agir, pois de acordo com o relatório de emissões do Programa da Nação Unida para o Ambiente, "se o planeta atingir mais 2,5 graus de aquecimento até ao ano de 2100, as perdas humanas e materiais seriam drásticas Mais de 250 mil pessoas morreriam em cada ano. E o PIB mundial diminuiria em 30%."
Motivos que levam Lula a dizer que "é por isso que a COP 30 será a Copa da Verdade. Chegou o momento de levar a sério todos os avisos da ciência e de enfrentar a realidade. Decidir se teremos ou não, a coragem e a determinação necessárias para transformar as coisas.
Já na sua intervenção, o 1º ministro português anunciou o contributo de Portugal de um milhão de euros para fundo global das florestas tropicais. Luis Montenegro enalteceu o facto de Portugal estar ligado desde o início ao Fundo Florestas Tropicais, lançado por Lula da Silva.
Quanto a António Guterres constatou que quanto ao aquecimento global "a verdade é que falhamos para garantir que ficamos abaixo dos 1,5 graus.
Para o secretário geral da ONU, a ciência já mostrou que será inevitável essa fasquia ser ultrapassada no início da década de 2030. Apelou à urgência, "precisamos de uma mudança de paradigma para limitar a magnitude desta escalada e desligar a sua duração rapidamente, porque mesmo que temporária essa subida terá sempre consequências dramáticas.
Argumentos não faltam ao líder das Nações Unidas para medir impactos, mesmo antes dos ecossistemas atingirem pontos irreversíveis, ou de expor bilhões de pessoas a condições inabaláveis, ou amplificar a ameaça à paz e à segurança e por isso defende que "cada fracção de 1 grau centígrado, significa mais fome, mais deslocados e mais perdas, especialmente para aqueles que são menos responsáveis. Afirma mesmo que "Isto é falha moral e negligência mortal."
Para António Guterres, as contribuições nacionalmente determinadas submetidas, representam progresso, mas ainda estão longe do que é necessário. Enquanto se discute isso, "a crise climática acelerou, potenciando recordes de maiores incêndios, inundações mortais, tempestades de dimensão superior, destruindo vidas, economias e décadas de progresso."
Face ao nivel recorde de emissões registado o ano passado e agora confirmado pela própria Organização Meteorológica Mundial que está segura que as emissões continuarão a subir este ano, Guterres é peremptório, " deixem-nos ser claros, o limite de 1 grau e meio é uma linha vermelha para a humanidade. Os cientistas também nos dizem que isso ainda é possível alcançar. Se agirmos agora, com velocidade e escala, podemos conter as emissões e trazer de volta as temperaturas abaixo de 1,5 grau Celsius antes que o fim do século."
Um objetivo pelo qual todos devem lutar, no entender de Guterres, quando "um revolução de energia limpa já se tornou real, com o solar e o eólico a tornarem-se fontes de energia mais baratas e rápidas da história."
O ano passado, quase toda a capacidade de energia nova veio das renováveis e a criação de emprego e desenvolvimento económico tornou-se uma evidencia que António Guterres considera que "resfriou tensões geopolíticas, entregando segurança energética e estabilidade de preços e está a conectar milhões de pessoas a energia limpa pela primeira vez".
Argumentos para o secretário geral da ONU afirmar que a economia mudou, sublinhando que só em 2024," investidores forneceram 2 trilhões de dólares para a energia limpa, ou seja, 800 bilhões a mais do que os combustíveis fósseis, mas... o que ainda está a faltar é coragem política e os combustíveis fósseis ainda comandam grandes fundos, dinheiro dos pagadores. Muitas corporações ainda estão a ter lucros recordes, benefíciando do desastre climático."
Numa altura em que muitos povos perdem a esperança de ver acção dos seus líderes, Guterres desafia todos a agir, de forma mais rápida e juntos e tal desígnio deve iluminar uma década de aceleração e entrega. Ir para alem do compromisso e transformar a intenção em ação, apoiando os países em desenvolvimento, com rendimento mais baixo e que são altamente dependentes dos combustíveis fósseis.
Para Guterres, as políticas de comércio e investimento não podem ser interrompidas no seu dever de apoiar o clima e devem demonstrar o caminho claro e credível para alcançar os 1,3 trilhões de dólares por ano em finanças climáticas até 2035, tal como ficou acordado na COP29 em Baku.
Os países desenvolvidos devem assumir a liderança para mobilizar 300 bilhões de dólares anuais, à escala concordada, porque "não há mais tempo para negociações e é tempo de implementação, implementação, implementação."
O lider da ONU desafia ainda os lideres das 160 delegações presentes nesta COP30, a deixar Belém com o mundo equipado de um pacote de medidas de justiça climática que ofereça equidade, dignidade e oportunidade e tal significa um plano concreto para fechar de vez a questão da adaptação financeira e entregar essa ajuda financeira em primeiro lugar ás comunidades que estão na ilha da frente dos impactos das alterações climáticas.
Defende ainda que seja fechado um acordo quanto à transição com medidas concretas de apoio para que "qualquer país as possa por em prática, protegendo trabalhadores, empoderando comunidades e criando novas oportunidades, através de contribuições significativas e acesso simplificado ao fundo de dívida e danos."
Para Guterres, uma transição justa também significa que os povos indígenas estão a fazer o seu caminho, com o seu conhecimento e participação, vão iluminar o caminho em Belém do Pará para termos um planeta vivo e para tal podem contar com as Nações Unidas.
O secretário geral da ONU assegurou que o apoio às novas contribuições dos países comprometidos com a ação climática, terá auxilio na preparação da sua arquitetura do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas durante os respectivos planos de implementação.
Rematou a sua intervenção, dizendo que o desafio é imenso, mas as escolhas são claras. "Ninguém pode negociar com a Física, mas podemos escolher, se queremos a destruição total do planeta, ou escolher Belém como ponto de viragem com esperança na Ciência e na Justiça em nome das gerações futuras."