
Marcha pelo Clima em Belém do Pará
DR Francisco Ferreira
Belém do Pará, berço da COP30, assistiu aos gritos da Marcha Global por Justiça Climática, exigindo uma "COP da Verdade' e o fim da dependência fóssil na Amazónia e contou com duas ministras na fila da frente.
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A Marcha Global pelo Clima terá tido uma adesão superior a 30 mil pessoas, entre milhares de comunidades locais, grupos indígenas e ativistas de mais de 65 países do mundo, segundo a organização.
Nas fileiras dos manifestantes, empunhando tarjas, bandeiras e cartazes, a presença das ministras brasileiras, Marina Silva e Sónia Guajajara, em sintonia quanto à ideia de que a solução para a crise climática, vem dos "guardiões da vida" e da construção de um novo "mapa do caminho".
A capital do estado do Pará foi assim palco de uma demonstração massiva de força popular e política com a realização da Marcha Global por Justiça Climática, no quinto dia da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30).
A Marcha reforçou a voz do chamado "Sul Global" num percurso de 4,5 km, entre o Mercado de São Brás e a Aldeia Cabana, organizada em blocos de Movimentos Sociais, Internacionalistas e da Transição Justa.
Em comunicado, os organizadores prometem fazer balanço numa conferência de imprensa marcada para amanhã, mas falam de um ato que traduz um alerta contundente. "Os povos que resistem diariamente ao desmatamento e à ganância que mercantiliza a terra e a vida são os verdadeiros responsáveis por guiar a solução climática. O protesto é o principal contraponto político à cúpula oficial, unindo a agenda do governo federal e a voz da base em uma só praça."
As ministras, Marina Silva (do Meio Ambiente e Mudança do Clima) e Sônia Guajajara (dos Povos Indígenas) reconheceram a rua como o espaço fundamental para a democracia e a justiça climática.
Sônia Guajajara, Ministra dos Povos Indígenas, destacou que a Amazônia se tornou o centro do debate global. "Nós, povos indígenas, que sempre estivemos aqui, nos juntamos neste momento para receber o mundo. Chegou a vez da Amazônia falar para o mundo. Chegou a vez aqui de encontrarmos o Cerrado, a Mata Atlântica, o Pampa, o Pantanal, a Caatinga, que estão sendo igualmente destruídos. É por isso que aqui se torna, neste momento, a zona azul da COP30, onde se encontram os guardiões e as guardiãs da vida."
Já Marina Silva, Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, saudou o protesto de rua, por ser contraste entre participação popular com o histórico de cúpulas fechadas.
"Em outras realidades políticas do mundo, aonde as manifestações eram feitas apenas dentro do espaço da ONU, agora, no Brasil, um país do Sul Global, de uma democracia conquistada e consolidada, sejam bem-vindos às praças. E repetiu o apelo do Presidente Lula, exigindo que esta cimeira seja a COP da verdade e da implementação. "Nós temos que fazer o mapa do caminho para a transição, para o fim da dependência de carvão, de petróleo e de gás. É fundamental que o mundo dê demonstração de que vamos sim adaptar nosso compromisso com o desmatamento zero."
Marina Silva reforça que a luta passa por combater o racismo ambiental, a destruição da Mãe Terra e a dependência dos povos diversos, reconhecendo o trabalho dos seringueiros, ribeirinhos, quebradeiras de coco e quilombolas.
Uma marcha organizada com base na urgência de fazer com que as vozes da rua, fossem daqueles que são dos atingidos, das periferias, dos povos indígenas e dos trabalhadores, para serem escutadas nas mesas de negociação da COP30.
Quanto a dados de mobilização, o Greenpeace fala em mais de 40 mil pessoas nas ruas de Belém, às quais se juntaram ativista deste movimento ambientalista, com mensagens a exigir o respeito pela Amazónia e que os poluidores fossem responsabilizados através de uma gigantesca conta de perdas e danos climáticos, que apresentaria projeções de prejuízos e danos atribuídos às principais empresas de petróleo e gás.
A Marcha Global pelo Clima foi organizada por organizações da sociedade civil e grupos de povos indígenas de diferentes partes do mundo.
Pouco depois de ter começado a Marcha Global pelo Clima, numa das salas de imprensa da COP30, o Secretário Executivo da ONU para Mudanças Climáticas, Simon Stiell, garantia que a sessão do Diálogo Ministerial de Alto Nível sobre Financiamento Climático, realizado este sábado marcava o dia. "O financiamento climático é a força vital da ação climática. É o que transforma planos em progresso e ambição em implementação. Sei que os recursos são limitados em todas as partes do mundo e que a implementação não é fácil. Mas o financiamento climático não é caridade. É economia inteligente, porque a ação climática, sustentada pelo financiamento climático, é a história de crescimento do século XXI e quando o financiamento flui, a ambição cresce. E quando a ambição cresce, a implementação flui e cria empregos, reduz
custo de vida, melhora a saúde, protege as comunidades e garante um planeta próspero e mais resiliente para todos."
Já a organização das Nações Unidas promete para esta noite de sábado, Delicias Quilombolas e cafés artesanais a acompanhar refeições leves no serviço de Catering do recinto.