Costa Neves paga para trabalhar? Frente Comum diz que "teria sido mais vantajoso" Montenegro ter ficado em silêncio
Em declarações à TSF, Sebastião Santana admite que os trabalhadores da administração pública "podem sentir-se, naturalmente, ofendidos" com as declarações do primeiro-ministro
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O primeiro-ministro, Luís Montenegro, afirmou, esta terça-feira, que quer valorizar os trabalhadores da administração pública, mas, por outro lado, disse que Carlos Costa Neves, o novo secretário-geral do Governo, vai pagar para trabalhar. Confrontado com as declarações de Montenegro, Sebastião Santana, coordenador da Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública, considera, em declarações à TSF, que o chefe do Executivo perdeu uma oportunidade para ficar em silêncio.
"Mais de cem mil trabalhadores da administração pública ganham o salário mínimo nacional. Acredito que qualquer pessoa que ouça uma declaração desta ordem se sinta naturalmente ofendida, mas creio é a espuma dos dias e que o Governo não quer mesmo é discutir o essencial", atira, sublinhando que esta "é daquelas oportunidades que não dizer nada é mais vantajoso do que dizer alguma coisa".
Montenegro elogiou o secretário-geral do Governo e os custos "pessoais e financeiros" que fez para aceitar o cargo, dizendo que Carlos Costa Neves terá um rendimento inferior nas novas funções do que tinha como reformado.
"Não deixo de anotar o esforço e a prova de dedicação à causa pública que o novo secretário-geral do Governo dá ao vir vestir esta camisola com custos pessoais e financeiros. É mesmo um caso para dizer que o Carlos Costa Neves, nesta ocasião, está a pagar para trabalhar, visto que terá um rendimento inferior nesta função do que aquele que teria se não aqui estivesse", salientou Luís Montenegro, na cerimónia de tomada de posse do secretário-geral do Governo, Carlos Costa Neves, na residência oficial em São Bento, em Lisboa.
De acordo com informação do gabinete do primeiro-ministro, o estatuto remuneratório do novo secretário-geral do Governo "será o previsto nos termos do decreto-lei nº 43-B/2024, de 2 de julho", rondando os seis mil euros, acrescentando-se que Carlos Costa Neves "abdica das pensões da Segurança Social e Caixa Geral de Aposentações e da subvenção mensal vitalícia por ser ex-titular de cargo político".
Na sua intervenção, Montenegro defendeu ainda que esta tomada de posse de Costa Neves simboliza “um novo tempo da administração pública”, que visa torná-la “mais ágil, mais eficiente e, por via disso, servir de forma mais expressiva o interesse de cada cidadão, de cada instituição, de cada empresa em Portugal”. “Um Estado também que possa ser mais racionalizado do ponto de vista da gestão dos dinheiros públicos. Não é o primeiro objetivo, quero aqui deixar isto muito claro. O primeiro objetivo é mesmo servir os cidadãos, é servir as instituições, e fazê-lo com eficiência”, defendeu.
Luís Montenegro reiterou que o Governo quer atrair e reter os melhores na administração pública e quer mesmo competir com as empresas pelos melhores profissionais.
Sebastião Santana refere ser "curioso" que "um primeiro-ministro se refira ao papel da administração pública como a necessidade de competir com empresas".
"O papel do Estado e dos serviços públicos é servir a população e é também para isso que os trabalhadores da administração pública concorrem, é para ter serviços públicos de qualidade, ter uma escola pública de qualidade, um Serviço Nacional de Saúde de qualidade e para todos, uma Justiça que funcione. É um conjunto muito vasto de serviços que precisam de trabalhadores bem pagos, porque, caso contrário, acontece aquilo que tem acontecido e que este Governo não está a conseguir alterar com estas medidas: as pessoas, à mínima hipótese que têm, saem da administração pública para outro setor qualquer", acrescenta.