Crédito Agrícola: «Não é por falta de dinheiro que bancos não financiam economia»

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O presidente do Crédito Agrícola defende que os bancos não financiam a economia devido à escassez de empresas saudáveis e bons projetos. Licínio Pina defende também uma revisão do memorando de entendimento com a troika.
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«A ideia que existe no público é que os bancos não têm dinheiro, os bancos têm dinheiro. Não têm é dinheiro para colocarem em empresas em grande dificuldade, não estão dispostos a correr riscos. Fazer com que haja mais dinheiro nos bancos para fazer reverter para a economia não é necessário», disse Licínio Pina em entrevista à Lusa.
O presidente do Crédito Agrícola diz ainda que, na sua opinião, não é necessário um banco de fomento em Portugal. Em primeiro lugar, porque «o Estado tem a Caixa Geral de Depósitos, que devia ser o banco de fomento da economia portuguesa». Em segundo lugar, porque a banca tem liquidez e «não necessita de nenhum banco que venha a suportar qualquer investimento para fomentar a economia».
Para o presidente deste banco cooperativo, os fundos não chegam à economia porque «há uma nova filosofia de concessão de crédito» em que as instituições são mais exigentes, nomeadamente quando muitas empresas já têm dificuldades em cumprir a dívida à banca que atualmente têm.
«Se os bancos quiserem vão ao financiamento do Banco Central Europeu e aportam dinheiro para a economia, precisamos é de empresas competitivas, capazes, de projetos bons e inovadores», sustentou, considerando que a banca não pode continuar a «apoiar empresas que já estão em agonia».
«Agora, penso que a recuperação de crédito não se faz executando as empresas, as pessoas, mas auxiliando-as e aí o banco terá uma grande responsabilidade em ajudar a empresas a recuperarem e a saírem das dificuldades que têm», acrescentou.
Segundo Licínio Pina, esta crise vai obrigar a uma mudança de atitude dos bancos na forma de conduzir o seu negócio.
«Os bancos vão ter de alterar -- e penso que já estão a alterar - o modo de fazer banca, não comprometendo todo o stock de depósitos, de recursos que conseguem dos clientes. E principalmente têm de ter muito cuidado quanto ao risco e isso já está a ser feito porque deixaram de emprestar de forma facilitadora, estão a dotar-se de melhores garantias, de prazos adequados e a adaptar o financiamento ao objeto específico de cada um dos créditos», afirmou.
O presidente do Crédito Agrícola defende também uma revisão do memorando de entendimento acordado com a troika para evitar que o Estado continue a consumir financiamento da banca que deveria ser canalizado para a economia.
Licínio Prata Pina considera que há «setores do Setor Empresarial do Estado que continuam a endividar-se e a consumir fundos que podiam ser canalizados para a economia e não são porque ficam nas empresas do setor público», sobretudo nas de transportes.
Para Licínio Pina, «não há necessidade de pedir mais dinheiro», mas é imprescindível prolongar o prazo de pagamento do empréstimo de 78 mil milhões de euros.