Luís Amado considera que o país tem de evitar uma crise política mas avisa que o Governo deve «reorientar» a ação, o que pode implicar uma remodelação - que não deve tocar em Gaspar.
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Entrevistado na TSF e Dinheiro Vivo antes de António José Seguro ter anunciado a intenção de lançar uma moção de censura ao Governo, Luís Amado considera que o país tem de evitar uma crise política a todo o custo. Sem nunca falar no PS, o presidente do BANIF considera que «se cometermos o erro de lançar o país numa crise política precipitada estaríamos a andar para trás e a criar ainda mais problemas para sair da situação em que estamos».
Governo precisa de «reorientar a ação». Remodelação é cenário a considerar
Luís Amado entende que «tem havido muito ativismo na frente financeira e pouco na frente económica e social». O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros entende que a vertente económica tem faltado e que o Governo tem de reorientar a ação governativa, que «ajudará à estabilidade política e governativa», que considera fundamentais.
O socialista sublinha que «é preciso reequilibrar os vetores do ajustamento no sentido de dar ao incentivo ao crescimento, ao apoio às empresas e ao apoio social às famílias outra dinâmica, outra esperança e outra expectativa». O presidente do conselho de Administração do BANIF diz mesmo que «a estabilidade política e governativa depende da reorientação da ação governativa» e que esse realinhamento pode implicar uma remodelação: «falo da reorientação da ação do Governo no sentido amplo: incluo a hipótese de uma remodelação». Mas recusa identificar as áreas que são as melhores candidatas a essa remodelação. Exceto uma: a das finanças.
Substituir Vítor Gaspar seria «um erro»
Essa hipótese de remodelação, que Amado recusa detalhar, deixaria Vítor Gaspar de fora: «se o Primeiro-Ministro tiver condições para manter a coligação e o governo, não vejo razão nenhuma para que não possa manter a figura do Ministro das Finanças, que tem sido uma pedra fundamental no processo de implementação de um programa que tem vindo a ganhar credibilidade externa». Os sucessivos falhanços das previsões económicas de Vítor Gaspar («as previsões económicas hoje são astrologia. É normal, dada a volatilidade dos mercados e da conjuntura internacional, que se falhem previsões») também não são, só por si, motivo para remodelar o ministro: «Substituí-lo neste contexto seria «um erro».
Erros nas decisões europeias são muitas vezes provocados «pelo cansaço»
A decisão do Eurogrupo, que na semana passada decidiu taxar os depósitos no Chipre como contrapartida do resgate financeiro foi um erro «precipitado pela resistência do Governo cipriota em afastar os grandes depositantes».
Luís Amado não fica surpreendido: «conheço bem a forma como, a partir de certa hora da noite, os processos negociais se resolvem. E resolvem-se pelo cansaço, pela abstenção, pela saída de elementos que desistem de acompanhar uma negociação que não está no centro das suas preocupações. Não imagina a quantidade de erros que ao longo dos anos se têm cometido por causa de decisões tomadas num ambiente de cansaço. às vezes está a fechar-se uma decisão crítica e está-se à espera que a bolsa de Tóquio abra, e às vezes é nessa hora, nesse limite que a decisão tem de ser precipitada. É essa a natureza de funcionamento do Conselho. É muita gente a mexer na panela e de vez em quando sai asneira».