O presidente da Comissão Vitivinícola Regional do Dão lança um apelo a intervenção urgente do Governo em Bruxelas para a redefinição de novos apoios ao produtores
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Arlindo Cunha, presidente da Comissão Vitivinícola Regional do Dão e ex-ministro da Agricultura dos governos de Cavaco Silva, afirma que o setor está a passar um período difícil pela conjugação de uma série de fatores e aproveitou a visita à região de José Manuel Fernandes, atualmente com a tutela, para apelar a uma intervenção do Executivo em Bruxelas no sentido de negociar um pacote de medidas anti-crise no setor.
A primavera deixa antever boa vindima este ano, se a uva não queimar no verão, mas face ao fluxo de vinho espanhol importado, à quebra de vendas nas exportações a leste e ao aviso de fecho de portas de algumas adegas no Douro à nova colheita, por terem ainda armazéns cheios, sem conseguir escoar, Arlindo Cunha lança um apelo a intervenção urgente do Governo em Bruxelas para a redefinição de novos apoios ao produtores e maior fiscalização sobre importações.
As exportações de vinho do Dão tiveram uma ligeira redução em valor em 2023, de cerca de 1,6% e para 2024, e poucas alterações são previstas pela CVR Dão.
A região produz em média 25 a 30 milhões de litros por ano e é expectável que ronde os 20 milhões de litros de vinho certificado.
Os mercados em que o Dão mais desceu foram os dos Estados Unidos, Espanha, Bélgica e Alemanha, tendo crescido no Canadá, na Suécia e nos Países Baixos, mas "a guerra na Europa está a afetar as vendas a leste, em especial na Ucrânia e Rússia, mercados importantes para nós", refere Arlindo Cunha.
A juntar à quebra de procura internacional está o aumento das importações de vinho a granel de Espanha, que este responsável admite que não estão a ser devidamente supervisionadas e influenciam o preço.
A cerca de três meses da vindima, Arlindo Cunha afirma que no Douro já existem adegas a recusar a nova colheita ainda por fazer, alegadamente por terem ainda produto em stock, que não conseguem escoar, deixando antever dias difíceis, em especial para os pequenos produtores.
Já hoje no mercado da grande distribuição, nas grandes superfícies, o preço médio da garrafa ronda os quatro euros e no mercado da HORECA (Hotelaria, Restauração, Cafetaria e Catering), esse preço é, em média, cerca de 12 euros, mas "a manterem-se os atuais problemas, o preço do vinho vai baixar", prevê o presidente da CVR Dão.
Arlindo Cunha, que foi ministro da Agricultura do Governo de Cavaco Silva, apela agora ao novo Executivo para intervir no sector e negociar medidas de "crise" com Bruxelas.
Ideias para reduzir o impacto negativo da situação foram já apresentadas ao novo ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, durante uma visita à região.
Entre elas, Arlindo Cunha defende a destilação de crise (transformação de vinho em álcool), linha de apoio ao armazenamento, outra para auxiliar a chamada vindima verde ou poda verde, mais fiscalização das importações, em especial ao nível do vinho certificado e ainda a renegociação e redirecionamento dos programas comunitários já existentes para o setor, que rondam os 50 a 55 milhões de euros.
O responsável pela Região Vitivinícola do Dão espera resposta positiva do Governo a este pedido, até porque, diz o atual ministro, "é um homem muito competente e conhecedor do setor."
