Declarações polémicas de Montenegro: Fesap avisa que "há milhares de trabalhadores na função pública que pagam para trabalhar"
Só com "salários dignos é possível ter uma administração pública de qualidade", defende, na TSF, José Abraão, da Fesap
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O primeiro-ministro, Luís Montenegro, afirmou, esta terça-feira, que quer valorizar os trabalhadores da administração pública, mas, por outro lado, disse que Carlos Costa Neves, o novo secretário-geral do Governo, vai pagar para trabalhar.
Confrontado com as declarações de Montenegro, José Abraão, secretário-geral da Federação dos Sindicatos da Administração Pública e de Entidades com Fins Públicos (Fesap), responde, em declarações à TSF, com ironia: "Senhor primeiro-ministro, ainda bem que tem ouvido as organizações sindicais e os trabalhadores, que há anos dizemos que pagamos para trabalhar."
"Há anos que dizemos isto: há milhares de trabalhadores na administração pública que pagam para trabalhar e, por consequência, é bom que se passe das palavras aos atos, [que] se possa resolver o problema da política dos baixos salários, pese embora reconheçamos o esforço que tem sido feito em algumas áreas", acrescenta.
Num tom mais sério, Abraão avisa que está na hora do Governo mexer nos salários dos dirigentes da administração pública, porque "são mal pagos e, em muitos casos, não são sequer reconhecidos".
"É bom que se vá tomando consciência deste mundo real e, definitivamente, se passe das palavras aos atos, procurando resolver os problemas não só daqueles que pagam para trabalhar, mas daqueles que têm hoje 15 e 20 anos de serviço e ganham tanto como aqueles que chegam hoje à Administração Pública."
Só com salários dignos, sublinha ainda o responsável, é possível ter uma administração pública de qualidade. Numa referência ao (típico) discurso de que é preciso "reter os melhores e recrutar competência", defende que "só há condições para tal quando efetivamente há uma disposição para pagar".