No habitual comentário na TSF, Francisco Louçã deixa elogios aos esforços do Governo, mas defende que "falta um projeto económico para evitar que a floresta desabe".
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Francisco Louçã defende que nunca tanto foi feito pela limpeza da floresta em Portugal, mas considera que a solução para a prevenção dos incêndios passa por combater o abandono das florestas com a criação de um projeto económico para o Interior.
No comentário semanal na TSF, o antigo líder do Bloco de Esquerda comenta o relatório da Comissão Técnica Independente sobre os incêndios de outubro, lembrando que a investigação foi mais difícil do que no caso de Pedrógão Grande, já que os incêndios foram mais dispersos.
O comentador defende que há pouca informação sobre a floresta (o inventário nacional data de 2013 com dados de 2010) e realça a gravidade destes incêndios. "Na Europa, nunca tinha acontecido no outono haver um mega incêndio, o que demonstra alterações climáticas evidentes e riscos cada vez maiores".
Entre as principais conclusões do relatório, Francisco Louçã salienta o que considera ser a gestão errada da floresta, consequência do afastamento das populações. "Temos décadas de desprezo em relação à mata e de perda de interesse e de motivação económica e social".
Para o comentador, "só uma resposta muito competente na prevenção e nos meios de combate aos fogos e muito estratégica na utilização da floresta é que pode responder a estas dificuldades" e combater o estado de abandono das florestas é determinante. "É só aí que começa e acaba a política que tem de ser sensata para responder a estes problemas. E isso exige um esforço nacional".
Francisco Louçã reconhece que o problema das florestas entrou no debate público e que o Governo tem feito um trabalho inédito nesta matéria, pressionando proprietários e autarquias, mas defende que não pode ficar por aqui.
"É a primeira vez que vejo um inverno em que há um esforço para se limpar matas. Isto está a começar no país, muda as perceções, ainda bem que está a ser feito, mas é preciso fazer muito mais. A limpeza das matas não é suficiente para evitar este risco".
Voltar a habitar o Interior e combater o abandono da mata é essencial, defende Francisco Louçã, que considera que o problema vai continuar enquanto não viver gente com comodidade, com gosto pela sua terra, no conjunto do território nacional.
Para isso, é necessário que as vilas e aldeias do Interior sejam equipadas com serviços públicos essenciais, acessos e emprego. "É esse projeto económico que tem faltado para evitar que a floresta desabe, que seja este manto de perigos e para que possamos viver num país que se reconhece mais a si próprio como o que ele é, com estas diversidades que fazem a nossa riqueza e a nossa gente", defende Francisco Louçã.
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Todas as sextas-feiras, depois das notícias das 10h, Francisco Louçã comenta os principais assuntos económicos da atualidade na TSF.