"É uma conferência morna" em "contraste com mundo mais quente": Zero lamenta ausência de Montenegro na COP29
Francisco Ferreira, da associação Zero, sublinha que, com a eleição de Donald Trump nos EUA, o mundo vai assistir a um "grande resfriamento naquilo que é a necessidade de articulação à escala global para lidar com este problema dramático das alterações climáticas, por contraste com este mundo mais quente"
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A associação ambientalista Zero lamenta a ausência do primeiro-ministro na 29.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP29), defendendo que a "a questão das alterações climáticas é de tal forma relevante para a humanidade, que merecia a presença" de Luís Montenegro.
A cimeira das Nações Unidas dedicada ao clima ocorre num ano que deverá ser o mais quente de sempre, devido à das alterações climáticas. Pela primeira vez em oito anos, o primeiro-ministro não irá marcar presença nesta conferência. Portugal estará, por isso, representado pela Ministra do Ambiente e da Energia.
Francisco Ferreira, presidente da associação Zero, destaca, em declarações à TSF que este é um "elemento a lamentar".
"Sabemos que a ministra do Ambiente e Energia irá estar presente, quer no início, quer no final, aquando das decisões que serão tomadas ao longo destas duas semanas, mas a questão das alterações climáticas é de tal forma relevante para a humanidade e do ponto de vista dos contactos entre chefes de Estado e Governo, que mereceria a presença ao nível do primeiro-ministro aquando do início dos trabalhos", aponta.
O ambientalista, que vai estar no Azerbaijão, antevê por isso uma cimeira "morna" com muitas questões por resolver.
"É uma conferência morna, porque muitas das decisões relativas principalmente à redução das emissões de gases com efeitos de estufa - que é o elemento essencial para passarmos de um aumento de temperatura, que neste momento está na linha de 3,1º C, em relação à era pré-industrial, para algo próximo de 1,5º C, que era o desejável, essas metas só serão estabelecidas daqui a um ano, sendo que os países deveriam apontá-las até fevereiro de 2025", explica.
Francisco Ferreira confessa que gostaria de "conhecer já" as intenções dos Estados que vão participar na conferência, mas avança que "isso muito provavelmente não irá acontecer".
A preocupação em torno das questões relacionadas com o clima agudiza também agora com o regresso de Donald Trump à Casa Branca. O ambientalista teme, por isso, um retrocesso na forma como o mundo vai combater o problema das alterações climáticas.
"Temos um novo Presidente eleito nos EUA e aqui, num mau sentido, vamos ter um resfriamento grande naquilo que é a necessidade de articulação à escala global para lidar com este problema dramático das alterações climáticas, por contraste com este mundo mais quente", afirma.
O líder da Zero destaca igualmente que o mundo tem assistido a "recordes a serem batidos", pelo que "tudo aponta para que 2024 seja o ano mais quente desde que há registos". Critica, por isso, a uma "atuação global muito aquém daquilo que era necessário".
Uma das grandes questões em debate na COP29 será a compensação financeira dos países mais poluidores aos mais vulneráveis. Esta é, para Francisco Ferreira, um ponto de discussão que vai aquecer os trabalhos.
"Se por um lado é uma urgência nós irmos muito mais além daquilo que o acordo de Paris fixa - cem mil milhões de dólares, por ano, dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento -, nós precisamos de garantir que este valor é muito maior, mas que terá de vir não apenas do setor público, mas também do setor privado", defende, completando que a questão de quais os países é que deverá ser proveniente este financiamento "vai ser uma questão bem quente".
O último relatório das Nações Unidas sobre emissões de gases com efeito de estufa prevê um aquecimento global de 3,1º C até ao final do século, caso se mantenham as políticas atuais e os governos não assumam compromissos mais ambiciosos de redução de emissões.
A reunião, que decorre até dia 22, deverá ser marcada pelas negociações do chamado "Novo Objetivo Quantificado Coletivo" (NCQG na sigla em inglês).
O propósito é estabelecer um novo valor da ajuda financeira Norte-Sul para a luta e adaptação às alterações climáticas, um ano após o acordo sem precedentes entre países de todo o mundo a favor de uma "transição" para o abandono dos combustíveis fósseis na COP28.
Pretende-se também alcançar compromissos de redução de emissões até 2030, depois do último relatório da ONU sobre emissões de gases com efeito de estufa (GEE) ter previsto um aquecimento global de 3,1 graus celsius (°C) até ao final do século, caso se mantenham as políticas atuais.
O Acordo de Paris determinou que a redução de emissões de GEE deveria impedir que as temperaturas mundiais subissem além de 02ºC (graus celsius) acima dos valores da época pré-industrial, e de preferência que não aumentassem além de 1,5ºC.
A agenda inclui ainda o balanço global dos progressos relativos à redução de emissões desde o Acordo de Paris e espera-se que seja possível um acordo sobre o Objetivo Global de Adaptação (GGA) até 2025.
Delegações de quase 200 países estarão presentes na cimeira, que deve contar com cerca de 50.000 participantes.
A COP29 ficará marcada pela ausência dos presidentes dos Estados Unidos e do Brasil, bem como da presidente da Comissão Europeia, Úrsula von der Leyen, entre líderes de vários países que tradicionalmente participam nas negociações.
Portugal estará representado pelo presidente do Instituto para a Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).