Para Olivier Blanchard a reestruturação da dívida grega devia ter ocorrido mais cedo. Quanto a Portugal, Blanchard aponta melhorias em alguns aspectos em relação ao programa inicial.
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Depois do polémico relatório do FMI sobre a Grécia, o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional vem agora dizer que se perdeu tempo e que a reestruturação da dívida grega devia ter avançado mais cedo.
Numa entrevista à radio francesa France Inter, Olivier Blanchard diz que o FMI e os parceiros Comissão Europeia e Banco Central Europeu perderam tempo no caso do resgate à Grécia e que a reestruturação da divida devia ter acontecido mais cedo apesar de, na altura não estarem reunidas as melhores condições.
A atuação do FMI «não foi a ideal, provavelmente perdemos tempo», admitiu o responsável do FMI, no final de uma semana marcada pelas notícias sobre a admissão de erros no programa de resgate financeiro à Grécia.
«Naturalmente, a Grécia deveria ter estado disposta a renegociar a dívida à partida, poder sair da crise mais facilmente, mas no contexto europeu da época, as condições não estavam ainda reunidas para isso», disse aquele responsável, aludindo ao receio generalizado de que uma renegociação da dívida tivesse um efeito de contágio aos outros países em dificuldades, e precipitasse uma crise financeira generalizada e, no limite, o fim da zona euro.
Esta solução acabou por vingar um ano depois, mas não de forma decisiva: «A dívida é demasiado elevada», frisou, considerando que isto tem consequências, porque os investidores continuam renitentes em emprestar dinheiro à Grécia.
«O efeito de uma dívida muito pesada atrasa o regresso do país a um equilíbrio aceitável. Quando um país tem um peso de dívida insuportável, há que aceitar a realidade e diminuir o peso da dívida», admitiu.
No que diz respeito à desvalorização do FMI sobre o efeito das políticas de austeridade no crescimento, reconhecida pela instituição há uns meses, Blanchard disse que se tratou de um erro de apreciação: «Não há doutrina, baseamo-nos na teoria e no que sucedeu em muitos outros países anos, mas algumas vezes erramos. Fizemos o melhor que pudemos ao longo do tempo, com um pragmatismo que diz respeito a uma realidade terrivelmente complexa».
«Conversas francas» em Portugal
Nesta entrevista, Olivier Blanchard também falou de Portugal considerando que o caso português tem sofrido evoluções positivas.
O economista-chefe do FMI diz que as conversas entre os parceiros da troika e o governo português «têm sido muito francas» e já levaram, por exemplo, a alteração das metas para a redução do défice.
«O resultado do programa em Portugal é o resultado da discussão com o Governo português, as instituições da União Europeia, o BCE e nós. Há discussões muito francas, não em público, mas nos bastidores, dando lugar a opiniões diferentes, mas é difícil dizer quem tem razão. Acho que o programa evoluiu um pouco. Por exemplo, penso que a atitude em relação à consolidação orçamental evoluiu ao longo do tempo», disse aquele responsável.