Electrão recolhe mais 31% de equipamentos elétricos em 2024, mas Portugal "ainda não cumpre metas europeias"
Em declarações à TSF, Pedro Nazareth, CEO do Eletrão, fala num "crescimento assinalável", reconhecendo, no entanto, que o país "está muito atrás nas ambições de metas de recolha e de reciclagem"
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A associação Electrão recolheu no ano passado mais de 36 mil toneladas de equipamentos elétricos, tendo aumentado a recolha mas também a reutilização, indica um balanço da entidade, que salienta ainda assim o não cumprimento de metas.
“Apesar dos resultados positivos, Portugal ainda não cumpre as metas europeias e há problemas que persistem – a acumulação e o mercado paralelo”, diz a associação num balanço sobre 2024 divulgado esta quinta-feira.
Em declarações à TSF, Pedro Nazareth, CEO do Eletrão, destaca o crescimento que se verificou em 2024, mas reconhece que Portugal ainda está longe de atingir as metas europeias.
"É um crescimento assinalável, estamos muito satisfeitos com os resultados de 2024, porque conseguimos, em comparação com o período homólogo, aumentar 31% as quantidades de equipamentos elétricos usados que o Electrão recolhe nos mais de 13.500 locais de recolha", explica à TSF Pedro Nazareth, sublinhando que o país "está muito atrás nas ambições de metas de recolha e de reciclagem".
O CEO do Electrão lembra, ainda assim, que Portugal está a atravessar "um período de muito consumo de equipamentos elétricos e eletrónicos e, portanto, muito desse consumo é consumo sem substituição".
A reciclagem de eletrodomésticos de grandes dimensões foi a que mais cresceu no ano passado: foram recolhidas mais seis mil toneladas face a 2023. "Este crescimento veio dos grandes aparelhos. Estamos a falar de máquinas de secar, de máquinas de lavar, de frigoríficos, de arcas congeladoras. Portanto, são os aparelhos muito volumosos que suportam o grande volume de resíduos que recolhemos no ano passado. Mas não crescemos apenas só nisto. Crescemos também noutras categorias, porque quando falamos de equipamentos elétricos e eletrónicos é toda uma constelação", afirma.
Durante o ano passado, o Eletrão criou mais dois mil pontos de recolha, além de ter mantido a aposta em campanhas como a recolha porta a porta ou o "Quartel Electrão". Já a atuar em nove concelhos da Grande Lisboa e Grande Porto, Pedro Nazareth revela que estão a estudar o aumento de pontos de recolha em novos municípios, em especial na zona oeste.
"Já estamos na zona do Oeste e temos procurado promover uma questão de eficiência à volta da Área Metropolitana de Lisboa e temos em estudo outras zonas do país, mas temos vindo a alargar. Eu recordo que há dois anos estávamos em três ou quatro freguesias de Lisboa. Volvidos estes dois anos, tenho o privilégio de dizer que estamos a dar cobertura a praticamente três milhões de habitantes", acrescenta.
O Electrão – Associação de Gestão de Resíduos é uma entidade responsável por três dos principais sistemas de recolha e reciclagem de resíduos: embalagens, pilhas e equipamentos elétricos usados. Gere uma rede que em 2024 chegou a 13.500 pontos de recolha de equipamentos elétricos e pilhas usadas (mais 2.103 do que em 2023) e é também responsável pela reciclagem de embalagens em todo o país.
Segundo o balanço, o Electrão encaminhou para reciclagem no ano passado mais 31% de equipamentos elétricos. A associação destaca um aumento de 43% na recolha de equipamentos elétricos de grandes dimensões e diz também que a reutilização de equipamentos elétricos subiu 14%.
As mais de 36 mil toneladas de resíduos representam um crescimento de 31% em relação ao ano anterior (27 mil toneladas) e de 52% face a 2022 (24 mil toneladas).
Entre os elétricos mais entregues para reciclagem figuram os de grandes dimensões como máquinas de lavar roupa ou frigoríficos (22.233 toneladas), seguindo-se equipamentos como aspiradores, torradeiras ou ferros de engomar (6.837 toneladas).
Foram ainda recolhidas, de acordo com o balanço, 4.470 toneladas de equipamentos de informática e telecomunicações (como telemóveis), 2.456 toneladas de ecrãs e 313 toneladas de lâmpadas.
O Electrão enfatiza o aumento na recolha dos grandes equipamentos pelo facto de haver um mercado paralelo, com esses equipamentos a serem desviados e a não chegarem a ser corretamente descontaminados e reciclados.
A associação salienta também a necessidade de continuar a sensibilizar as pessoas para entregarem os equipamentos usados para reciclagem, combatendo o mercado paralelo e, também, a acumulação de aparelhos inúteis.
“Verificamos, com entusiasmo, que os resultados alcançados têm vindo a crescer, de ano para ano (…). Mas queremos melhorar ainda mais, porque continuamos longe de atingir os objetivos desejados na reciclagem de equipamentos elétricos em Portugal”, disse o diretor-geral de elétricos e pilhas do Electrão, Ricardo Furtado.
E acrescentou: “Com a entrada em vigor da nova licença, que regula a atuação das entidades gestoras, e com metas mais ambiciosas de reciclagem, este ano de 2025 representa uma pressão adicional para o país e para o sistema de gestão de resíduos elétricos, com a necessidade de aumentar ainda mais as recolhas e de recorrer a novas soluções para envolver o cidadão.”
Além da reciclagem, o Electrão, recorda, incentiva a reutilização de equipamentos elétricos, seja através da doação (com o projeto Ondedoar.pt), ou da reparação (com o Academia REPARA).
O processo de verificar o potencial de reutilização dos equipamentos permitiu que no ano passado fossem reutilizadas 1.327 toneladas de aparelhos elétricos, um aumento de 14% em relação a 2023.
