Os resíduos elétricos e eletrónicos representam apenas 2,5% do total de investimento previsto em resíduos urbanos para Portugal. Pela primeira vez, o Eletrão está a participar nas negociações da estratégia do sector, após resolvido o constrangimento regulatório que travava essa participação
Corpo do artigo
Pela primeira vez, o Eletrão foi chamado pelo Governo para participar na discussão da Estratégia Nacional de Resíduos, com um pacote de quatro a seis mil milhões para investimento. Quem o diz é Pedro Nazareth, CEO do Eletrão, entidade que gere um segmento da atividade que representa uma fatia de 50 a 100 milhões de euros destinados ao investimento em reciclagem de equipamentos elétricos e eletrónicos.
Em entrevista à TSF, Pedro Nazareth considera que as prioridades de atuação do Executivo devem passar por definir regras para parceiros e gestão do sector, numa altura em que os novos regulamentos europeus para baterias e matérias raras são de aplicação direta nos estados-membros, sem ser preciso transposição de diretivas. Isto agiliza, por exemplo, a recuperação de materiais raros, com uma meta de 25% a extrair dos equipamentos a reciclar, como contributo para tornar a Europa mais independente de fornecedores estrangeiros como a China.
Portugal consome anualmente 300 mil toneladas de novos equipamentos, mas esse consumo é maior nos resíduos urbanos, representando cinco milhões de toneladas por ano, daí o representante considerar prioritária a intervenção do Governo na mudança de modelo de gestão dos 23 sistemas municipais atuais para escalar investimentos e na definição do papel das entidades como o Eletrão na gestão desses financiamentos futuros.
Acredita que o Executivo vai concretizar uma Estratégia Nacional de Gestão de Resíduos, porque há um calendário acelerado e definido para a tomada de decisões, na qual o Eletrão está disponível para continuar a participar.
A reciclagem de pilhas regista um aumento entre 10 a 12%, além das 36 mil toneladas de equipamentos elétricos recolhidos em 2024, com os eletrodomésticos de grande porte a representarem mais de 40% do total recolhido.
Na prática, significa mais 31% face ao ano anterior e 52% face a 2022 nas recolhas efetuadas nos 13.500 pontos espalhados nos nove concelhos em que atua, situados nas grandes áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.
Dos novos regulamentos lançados pela União Europeia para baterias e matérias raras, Nazareth destaca a meta de 25% prevista para a reciclagem desse tipo de materiais, numa altura em que é necessário a Europa deixar de estar dependente de um pequeno grupo de países fornecedores, liderados pela China.
O sector da reciclagem dos equipamentos não fugirá ao impacto das tarifas anunciadas por Donald Trump, que considera que violam leis internacionais do comércio, mas também vão fazer sofrer os 300 a 400 milhões de habitantes nos EUA e ter repercussões na Europa.
De acordo com a União Europeia, os estados-membros até 2025 deveriam reciclar já 55% dos resíduos urbanos, percentagem que deve aumentar para 60% até 2030 e para 65% até 2035.
