"Enorme consumo de energia." Cem organizações alertam para impactos ambientais da inteligência artificial
Em declarações à TSF, Francisco Ferreira, da associação ambientalista Zero, refere que "o enorme consumo de energia requerido pelos algoritmos de inteligência artificial em centros de dados, se não for de origem renovável e for à custa da queima de combustíveis fósseis, tem um peso absolutamente brutal"
Corpo do artigo
Uma centena de organizações da sociedade civil, incluindo a Zero, pedem aos líderes mundiais e da indústria, que reconheçam urgentemente os verdadeiros danos ambientais da Inteligência Artificial (IA) na cimeira de IA de Paris que começa na segunda-feira.
Em declarações à TSF, o presidente da associação ambientalista Zero, Francisco Ferreira, refere que é preciso considerar a energia usada para estas ferramentas. "Por um lado, o enorme consumo de energia requerido pelos algoritmos de inteligência artificial em centros de dados, se não for de origem renovável e for à custa da queima de combustíveis fósseis, tem um peso absolutamente brutal. Depois também há impactos ambientais relativos à quantidade de materiais necessários para toda a infraestrutura informática destes centros", explica à TSF Francisco Ferreira, sublinhando que há ferramentas de inteligência artificial mais poluentes do que outras.
"Tem a ver com a eficiência dos algoritmos que são utilizados e nós começamos a perceber que há plataformas, como a DeepSeek, em comparação com outras, como o ChatGPT, cuja eficiência dos algoritmos é diferente. Algoritmos diferentes significam também consumos de energia diferentes", afirma.
Francisco Ferreira adianta que a carta enviada aos organizadores da 'AI Action Summit' apresenta exigências e sugestões, mas admite que a missiva pode não ficar apenas por esta cimeira.
"Nós vamos ter oportunidade de fazer uma apresentação e uma discussão pública na cimeira sobre este assunto e estamos conscientes que, pelo menos com carta apresentada e com essa intervenção, este assunto possa não ficar esquecido e faça parte da agenda e das conclusões desta cimeira que vai ter lugar em França. Por agora, esta carta surge nesta cimeira principal sobre o uso da inteligência artificial, mas isso não impede que nós, junto da Comissão Europeia e também da sociedade civil, não alertemos para esta questão", acrescenta.
Na missiva apelam aos decisores para que dediquem todos os meios necessários para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis em toda a cadeia de abastecimento da IA, e alertam para a urgência de pensar nos danos ambientais da IA e agir agora.
Na carta defendem que é crucial ter participação pública nas decisões sobre para que é utilizada a computação e em que condições, destacando que o ativismo climático e ambiental não deve ser criminalizado.
Também lembram que a transparência deve ser significativa e que a informação publicamente acessível sobre as implicações sociais e ambientais da infraestrutura de IA proposta deve ser fornecida ao público antes de esta ser construída ou dimensionada.
"Os signatários reforçam a necessidade de rejeitar soluções falsas e enganosas e, em vez disso, oferecer caminhos práticos para alinhar a IA dentro dos limites planetários", destaca o comunicado.
A IA nunca poderá ser uma solução climática se funcionar com combustíveis fósseis e for utilizada para extrair petróleo e gás, alertam, constatando que a crescente procura de eletricidade está a levar as infraestruturas energéticas ao seu limite, prolongando e intensificando a dependência dos combustíveis fósseis, agravando os impactos climáticos e prejudicando compromissos para limitar o aquecimento global.
Os signatários da carta frisam ainda que a infraestrutura de IA, como os centros de dados, deve ser alimentada por energia renovável nova e adicional que suporte uma transição energética mais ampla.
As organizações que assinaram a carta são das áreas da justiça ambiental e climática, direitos humanos, tecnologia e infraestruturas de código aberto, direitos digitais, tecnologia feminista, ou federações como a Beyond Fossil Fuels, Climate Action Network (CAN) Europe, ECOS e European Environmental Bureau.
Outros subscritores, segundo a associação ambientalista Zero, são a AI Now, Athena Coalition, European Digital Rights (EDRi), Amnistia Internacional, Association for Progressive Communications (APC) e La Quadrature du Net.
