
Reuters
Mário Centeno foi eleito há um ano. Em entrevista à TSF, no final de uma maratona de negociações, o presidente do Eurogrupo faz um balanço que o deixa "satisfeito", considerando que há "resultados" para a reforma do euro.
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Os ministros das finanças da zona euro estiveram reunidos desde esta segunda-feira ao início da tarde. O debate só ficou concluído esta manhã, permitindo ao ministro português fazer o balanço de um ano, com "resultados" de um trabalho que "é muito coletivo", mas que o deixa "bastante contente."
Centeno disse que ficou fechada "a reforma do Mecanismo de Estabilidade Europeu, o "backstop" do Fundo de Resolução Europeu, e aquilo que é o reforço das funções e dos instrumentos do Mecanismo de Estabilidade Europeu, incluindo o acordo com a Comissão Europeia".
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O primeiro ano
O ministro português que alcança estes resultados, reconhecia há um ano que assumiria o cargo num dos momentos mais favoráveis da economia europeia.
A 4 de dezembro de 2014, depois de ser escolhido numa segunda volta contra o ministro luxemburguês das finanças - tendo antes afastado o ministro eslovaco e a ministra da Letónia -, Centeno identificava os sinais de "um tempo absolutamente único, para prepararmos ainda mais e melhor as nossas economias e as nossas sociedades".
Na altura não foi absolutamente concreto com os objetivos a que se referia, mas quando a 12 de janeiro assumiu funções, numa singela cerimónia na embaixada de Portugal em Paris, Centeno apontou ao "panorama das instituições da zona euro", considerando que o "intervalo de tempo" do ponto de vista "politico e económico" era o favorável para avançar.
A união bancária, o reforço do mecanismo europeu de estabilidade e o orçamento da zona euro tornaram-se os pilares incompletos que sustentaram, desde então, o principal objetivo do ministro de António Costa.
A sineta do poder
Na embaixada de Paris, onde se encontrou com o anterior presidente, - por ser na capital francesa que a agenda de ambos coincidia naquela data - Jeroen Dijsselbloem transferiu "os poderes do presidente do Eurogrupo", com o gesto simbólico de lhe entregar a sineta com a qual abre e encerra as reuniões do Eurogrupo.
Ao gesto que pareceu sarcástico, o português respondeu com tímidos sorrisos, ensaiando - a pedido dos jornalistas - o "dlim-dlão" do poder do presidente do Eurogrupo.
Que belo golo
Na primeira vez que conduziu os trabalhos de uma reunião, Centeno ouviu a reação carregada de um desportivismo irónico do Comissário dos Assuntos Económicos e Financeiros, Pierre Moscovici sobre o "belo golo" do "Ronaldo do Eurogrupo".
"Toda a gente sabe aqui o que chamamos ao Mário. Dizemos que é o Ronaldo da Economia Portuguesa e confirma-se que na primeira prestação, neste primeiro jogo, ele marcou um belo golo", afirmou Moscovici, ao mesmo tempo em que se adivinhava um longo caminho, para a reforma do euro.
Atrasos na reforma do Euro
Na primeira vez que deu conta do andamento das discussões aos chefes de Estado ou de Governo, numa cimeira em março, o ministro português esperava decisões daí a poucos meses, mas percebia-se que os resultados podiam derrapar, considerando que "os debates, sempre muito profundos" permitiam, porém, agendar as decisões "para junho".
O mês de junho chegou, mas as decisões não. Havia "temas" para "trabalhar no futuro", ficando "em aberto a possibilidade de, até à cimeira de dezembro, haver mais trocas de informações entre o Eurogrupo e o Conselho [Europeu]", admitiu Mário Centeno no dia em que enviou ao presidente Donald Tusk uma carta a identificar as reformas "urgentes" para o aprofundamento da União Económica e Monetária.
Seria o eurodeputado socialista Pedro Silva Pereira quem, há menos de um mês, numa sessão de diálogo com o presidente do Eurogrupo, no Parlamento Europeu, se referiu a um "contexto político desfavorável" como causa do fracasso das reformas, identificando as "visões diferentes sobre o futuro da Europa, o conflito orçamental com Itália, a instabilidade política em alguns países, e um período eleitoral muito próximo".
Um vídeo polémico
Quase passava despercebido, no verão de agosto, aquele que seria talvez o grande sucesso de Mário Centeno, até àquela altura: a conclusão do programa de assistência à Grécia. Mas a forma - que alguns consideraram "desastrosa" - com que assinalou o momento chamou devidamente a atenção.
Num vídeo com música em pano de fundo, o ministro do governo da geringonça elogia "o longo caminho em que todos aprenderam as lições", ao mesmo tempo que pede "responsabilidade" aos gregos. "Desconcertante", considerou há dias, a eurodeputada do Bloco, Marisa Matias quando o português participou numa sessão de diálogo com o parlamento europeu, referindo-se ao desastroso exercício de comunicação.
Resultados
Passado um ano desde a nomeação para a presidência do Eurogrupo, Mário Centeno apostou numa noitada para negociar todos os dossiês. Saiu com um acordo nos temas principais, que lhe permite fechar um primeiro ano de mandato com alguns resultados nas metas a que se tinha proposto.
"Os dossiês a que nos tínhamos proposto, e para os quais tínhamos um mandato para cumprir - partindo da cimeira de junho -, foram fechados", afirmou na entrevista, no final de uma maratona de 18 horas de negociações.
No entanto há ainda "matérias muito importantes" para as quais não há acordo, podendo ainda vir a envolver "meses ou anos de debate", admitiu, referindo-se ao "à capacidade orçamental, ao sistema de proteção de depósitos europeu" mesmos a outras "matérias" que "seguramente, vão aparecer em cima da mesa".