O CNADS nota que “a tecnologia eólica offshore está ainda pouco desenvolvida e disseminada, apresentando custos muito elevados em comparação com outras soluções de produção de eletricidade”
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O Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS) publicou, esta sexta-feira, o parecer sobre o Plano de Afetação para Energias Renováveis Offshore (PAER) elaborado pela Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM), um parecer com vários alertas para um negócio que o Executivo se prepara para colocar em leilão.
O organismo liderado por Filipe Duarte Santos alerta para o Governo ter cuidado com esta nova tecnologia porque os “preços de eletricidade, historicamente baixos, constituam um obstáculo à realização de muitos projetos por falta de interesse dos potenciais promotores”.
Assim, a concretizar-se a instalação de aerogeradores no mar, “a tarifa necessária para a cobertura das ofertas de energia, a que acresce o custo dos cabos de ligação a terra, da infraestrutura e custos operacionais relativos à manutenção das instalações, seria muito superior, daí resultando um muito claro aumento de custos do sistema, com reflexo na saúde económica do País e na capacidade de os cidadãos pagarem os custos desse bem de primeira necessidade”, adianta o CNADS.
Além disso, “noutras componentes, as necessidades de investimento são muito significativas e os procedimentos envolvidos morosos. De referir a necessidade de criação de frota e serviços marítimos de apoio à construção e manutenção das plataformas e geradores”, lembra.
Ao impacto económico da tecnologia acresce o impacto ambiental que nem está todo estudado.
O mexilhão
O CNADS critica mesmo o facto da a Avaliação Ambiental Estratégica do PAER ignorar dois tipos de impacto no meio marinho que o desenvolvimento pleno do Plano vai trazer: “O mais imediato é o impacto físico que a remoção de energia da atmosfera terá sobre a camada superficial do oceano.”
Para os relatores deste parecer, “algumas destas modificações podem afetar o funcionamento ecológico do oceano, notavelmente no que respeita à renovação de nutrientes à superfície e à produção primária fitoplanctónica”.
Por outro lado, devido à instalação das plataformas flutuantes, “a superfície imersa será abundantemente colonizada por algas, mexilhões e outros organismos bentónicos. A área total de substrato artificial criado, quando todo o plano previsto estiver operacional, será da mesma ordem de grandeza da área de substrato natural de mexilhão da costa portuguesa”.
Esta é uma grandeza para a qual “não há avaliações disponíveis, na literatura cientifica”. Para o CNADS trata-se “de um ecossistema totalmente novo”.
Há ainda que fazer contas ao impacto na pesca, “nomeadamente com a pesca de arrasto”. De acordo com os relatores, “este é um fator positivo para a recuperação da qualidade do ecossistema, que importa realçar, pois esta arte de pesca (arrasto) é unanimemente considerada como uma das mais danosas para o ambiente marinho”.
A este propósito, o CNADS advoga uma atenção especial a dois aspetos interligados: “por um lado, se as embarcações não forem desactivadas corre-se o risco de que o esforço de pesca por arrasto seja deslocalizado para outras áreas, sem que daí venha qualquer ganho ecológico (…) por outro lado , a importante frota de arrasto costeiro deverá ser apoiada no sentido de reconverter a sua atividade, seja em direção a outros tipos de pesca com menores impactos ambientais, seja adaptando os atuais arrastões para atividades de manutenção dos parques eólicos”, sugere o CNADS.
O PAER prevê a instalação no mar de aerogeradores com capacidade de produção de 10 gigawatts, até 2030.