No comentário semanal da TSF, Carlos Carvalhas colocou em causa estudos sobre Economia nas mãos de certas instituições que depois se descobre que foram manipulados.
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"Temos visto ao longo dos anos muitos estudos que têm assinatura de grandes instituições, como o Banco Mundial, a OCDE, o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Central Europeu (BCE), mas que depois vêm a confessar-se que havia erros, que houve enganos. Mas erros, enganos e sentenças que depois são proferidas sempre no mesmo sentido: nunca a favor de governos progressistas, nunca a favor dos trabalhadores", começou por sublinhar o antigo secretário-geral do PCP no comentário semanal na TSF.
Carlos Carvalhas acrescentou que "nunca se ouviu, por exemplo, defender-se a moderação dos lucros, é sempre a moderação dos salários. Nunca ouvi estas instituições e académicos a defender, por exemplo, mais direitos para os trabalhadores ou melhores condições de vida para que haja maior produtividade. Não, é sempre a flexibilização do trabalho, a moderação salarial ou a facilidade nos despedimentos".
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Depois de prejudicadas as pessoas, sublinhou Carlos Carvalhas, só mais tarde as instituições admitem os erros. "A maior parte das vezes vêm confessar isso quando as coisas já são tão evidentes na opinião pública que é mais positivo para eles e para as instituições confessarem, para obterem ainda alguma credibilidade e continuarem com a mesma política, do que procurarem ocultar", acusou.
Carlos Carvalhas deu o exemplo recente do Chile, com "um relatório do Banco Mundial, em que o economista-chefe Paul Romer admitiu que a instituição manipulou os dados sobre o ranking de produtividade do Chile. Nesse ranking, a posição do Chile caiu sucessivamente durante os governos socialistas".
Outro exemplo dado foi o de Portugal. Carlos Carvalhos recordou um estudo publicado há uns anos na revista norte-americana Economic Review que estabelecia uma "correlação negativa entre a dívida e o crescimento económico, (...) que veio dar cobertura a todas as teses conservadoras, incluindo no Governo de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, e foi utilizado por Vítor Gaspar para aplicar uma política brutal de austeridade e justificar as privatizações". "Mais tarde veio a saber-se que este estudo estava errado (...) e que tinha havido manipulações", concluiu.
O FMI, lembrou o antigo secretário-geral do PCP, também "procurava mostrar o efeito recessivo no PIB por parte das políticas de austeridade e procurava dizer que o efeito recessivo não era muito. Isto para as economias portuguesas e grega. Depois quando os factos já eram evidentes, quando as pessoas já tinham sido esmagadas pela austeridade, então vêm revelar que a austeridade foi excessiva, que os dados estavam errados... mas as políticas lá estavam e os efeitos negativos relativos à economia portuguesa também".
Todas as terças-feiras, depois das 9h00, Carlos Carvalhas comenta os assuntos económicos da atualidade.