Especialistas cautelosos com indexação dos salários da Função Pública à produtividade
Luís Bento, antigo consultor do Banco Mundial, considera que indexar os salários da Função Pública à produtividade é uma ideia difícil de concretizar. Por seu turno, João Cerejeira, professor da Universidade do Minho, diz que tal é possível mas não em todos os serviços.
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Estes especialistas reagiam, em declarações à TSF, depois da ideia avançada pelo líder do PSD, Pedro Passos Coelho, de indexar os salários da Função Pública à produtividade
Luís Bento, antigo consultor do Banco Mundial e professor de Recursos Humanos da Universidade Autónoma de Lisboa, disse que lançar a ideia é fácil, sublinhando que o problema é saber como será possível concretizá-la.
«A produtividade é uma medida de produção de valor, de produção de riqueza, sendo que a linha de produção de valor tem de ser quantificada. Numa empresa, conhecendo a cadeia de valor do negócio, é muito fácil determinar com rigor o grau de contributo de cada actividade interna para essa mesma cadeia de valor», afirmou.
Na Administração Publica, defendeu, «era preciso construir um conjunto de métricas que permita conhecer o grau de contributo individual e de cada serviço».
No entanto, sublinhou, «trata-se de um trabalho muito demorado, pelo que não me parece que essa medida possa ter uma aplicabilidade imediata e, muito menos, nos próximos três anos quando existe uma política de recessão económica, contenção, medidas restritivas e congelamento salarial».
Luís Bento lembrou ainda que a medida já existe nos países nórdicos, onde a Administração Pública tem um modelo de gestão muito semelhante ao sector privado, mas advertiu que não faz sentido nos países do sul da Europa.
Ouvido igualmente pela TSF, João Cerejeira, professor de Economia e Gestão na Universidade do Minho, revelou que indexar os salários à produtividade «é possível mas não em todos os serviços».
O responsável recordou, porém, que nalguns serviços públicos, como é o caso do Ensino Superior, já «existe um sistema de avaliação», que representa um bom contributo para acautelar a produtividade destes funcionários.
João Cerejeira defendeu, ainda, que os aumentos devem ser calculados tendo em conta a produtividade e a inflação, considerando que são dois factores muito importantes.