"Estado e empresas têm de investir mais em competências digitais avançadas para os portugueses"

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A economia digital já contribuiu para quase 40% da produção nacional, representa 1/4 do emprego no país e pesa 13% no PIB, além de dar um contributo de 30 mil milhões de euros para a receita fiscal do Estado. São dados do último estudo sobre o estado de arte do sector realizado pela Associação de Economia Digital, liderada por Alexandre Nilo Fonseca, que alerta para a urgência da aposta nas competências avançadas dos portugueses para o país não perder o comboio da revolução tecnológica
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Em menos de uma década diminuiu de 25 para menos de 10% o número de infoexcluídos em Portugal: hoje mais de 90% da população usa a internet e quase 80% recorre frequentemente a serviços, como o home banking (operações bancárias online).
De acordo com o último estudo da Associação de Economia Digital (ACEPI), a economia "tecnológica" já representa cerca de 1/4 do emprego no país, 39% da produção nacional, pesa 13% no PIB e dá um contributo na ordem dos 30 mil milhões em receita fiscal ao Estado.
Argumentos para o seu presidente, Alexandre Nilo Fonseca pedir, em declarações à TSF, mais investimento do Estado e das empresas nas competências avançadas neste domínio. Afirma que "faltam profissionais com competências digitais mais avançadas, mais especializadas, para que se possa vencer num mundo que é cada vez mais tecnológico". "Esse é o principal desafio que temos", assinala.
Considera a falta de competências o principal problema atual do país. Questionado sobre se existe alguma relação com a onda de despedimentos tornados públicos nos últimos meses, incluindo no sector dos contact centers e em gigantes, como a própria Microsoft ou Bosch, Nilo Fonseca não encontra qualquer co-relação, mas reforça: "O que vejo é uma mudança no perfil das necessidades e vale a pena sublinhar que 40% do nosso tecido empresarial é constituído maioritariamente por microempresas, nem sequer são PMEs, que hoje nem sequer têm uma presença online."
Alexandre Nilo Fonseca desafia o Governo e as empresas a apostar em capital humano até para esbater as "assimetrias territoriais e sectoriais" que ainda existem no domínio tecnológico.
Com o potencial de crescimento da economia digital, o presidente da ACEPI propõe que Portugal seja um hub tecnológico que amplifique negócios e promova uma formação avançada junto aos países lusófonos, "onde a digitalização está agora a começar", e com os parceiros europeus.
Questionado sobre se o Orçamento do Estado de 2026 deveria especificar qual o investimento público a nível digital nos diversos sectores (quando se sabe que cerca de um terço foi canalizado para a defesa e os restantes 2/3 distribuídos por várias outras pastas), o mesmo responsável admite que "eventualmente esse investimento no digital, às vezes está, de alguma forma, disfarçado de sector a sector".
Salienta que "só o investimento na defesa tem uma componente digital enorme", porque passa por "cibersegurança e outros mecanismos que permitam, de forma digital, monitorizar as fronteiras, os mares, ou que permitam manipular drones".
"A mesma coisa para a Autoridade Tributária, o mecanismo todo de fiscalização e de tratamento fiscal tem vindo a ser modernizado."
Para Alexandre Nilo Fonseca, o Governo vai no bom caminho, julgando que "a vontade que tem sido demonstrada na criação de uma nova agência com uma missão muito focada na modernização do Estado, vai certamente fazer-se, em grande parte, com a introdução de ferramentas digitais e isso vai obrigar as pessoas a aprender a trabalhar com essas novas ferramentas".
O líder da ACEPI ficaria surpreendido se nada acontecesse no futuro, lembrando que o país tem agora um ministro da Reforma do Estado, a reportar diretamente ao primeiro-ministro, com dois secretários de Estado com experiência nestas áreas da modernização, destacando Bernardo Correia, secretário de Estado para a Digitalização, que veio da Google. "Portanto, pelo menos, os sinais estão lá."
Não estou, nesta fase, tão preocupado com a não evidência no Orçamento do Estado de despesas classificadas como digital (...) O Orçamento também é relativamente recente. Valia a pena, de facto, pensar, olhar quase horizontalmente para todo o Orçamento do Estado e entender onde é que o digital se enquadra na saúde, na educação ou na justiça.
Como conclusão, refere que não vê nenhuma área da atuação do Estado que não seja altamente impactada pelo digital. Nesse sentido, ficaria surpreendido se "o atual Orçamento do Estado não contemplasse a economia digital que é provavelmente transversal a todas as áreas, mas valia a pena, se calhar, que o Estado pudesse, de alguma forma, escalpelizar o Orçamento de Estado para se entender melhor onde é que, dentro de todas as rubricas, o que é que está, de facto, relacionado, direta ou indiretamente, com a transformação digital".
Seja qual for o caminho, numa altura em que está quase a começar mais uma Web Summit dedicada ao sector, Alexandre Nilo Fonseca considera que a economia digital vai continuar a crescer e só deseja que Portugal não seja um follower neste campo, nomeadamente da Inteligência Artificial, e que "tenha consciência que realmente podemos ser uma referência mundial".
