
Mario Draghi
Reuters
O presidente do BCE afirmou hoje que a inflação vai manter-se baixa por um período prolongado e que «há o risco» de desinflação, reiterando que «não há debate» sobre o objetivo da instituição de controlar a evolução dos preços.
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«Neste momento, a nossa expectativa é de que a baixa inflação seja prolongada, mas que volte gradualmente aos 2%. No entanto, a nossa responsabilidade é estar alerta para os riscos que possam emergir e estar preparados para agir se isso ocorrer», afirmou Mario Draghi.
O presidente do Banco Central Europeu (BCE) falava no discurso que abriu hoje os trabalhos do 'ECB Forum on Central Banking', organizado pelo BCE em Sintra (junto a Lisboa), que começou no domingo e se estende até terça-feira.
Para Mario Draghi, neste momento, o BCE tem de estar «particularmente atento» à possibilidade de uma «espiral negativa» entre uma inflação baixa e as expectativas decrescentes da inflação e do crédito, «em particular nos países sob 'stress'».
«Há um risco de as expectativas desinflacionistas se materializarem. Isto pode levar as famílias e as empresas a adiarem a despesa num ciclo clássico de deflação», alertou Mario Draghi, que disse ainda que «as restrições de crédito estão a pôr um travão na recuperação dos países sob 'stress', o que acrescenta pressões desinflacionistas».
No entanto, Mario Draghi reiterou que o objetivo do BCE - de ter uma taxa de inflação abaixo mas próxima dos 2% a médio prazo - não está em causa. «Qualquer resposta exige uma avaliação cuidadosa dos custos e dos benefícios dos vários instrumentos. Mas não há debate sobre o nosso objetivo, que é voltar a uma inflação em torno dos 2% no médio prazo, em linha com o nosso mandato», garantiu.
A deflação é um problema quando se torna persistente, uma vez que a descida continuada dos preços faz com que os consumidores adiem as decisões de consumo, porque têm a expectativa de que os preços caiam ainda mais. Ao mesmo tempo, também as empresas adiam as decisões de investimento, o que, por sua vez, tem impacto no crescimento económico e no desemprego.
De acordo com Mario Draghi, a Europa vive «uma situação económica complexa», marcada por uma recuperação lenta, mas acompanhada por uma descida gradual das taxas de inflação. No entanto, disse que «é expectável» que, no início da recuperação, haja um desfasamento entre a inflação e o desempenho económico.
Por isso, o presidente do BCE defende que a política monetária tem de ser «cuidadosamente ponderada e corretamente desenhada», garantindo que o banco central «não está resignado a permitir que a inflação se mantenha muito baixa por muito tempo».