Exploração de lítio: autarca de Boticas acusa mineira britânica de agir num "estilo colonialista"
A empresa vai avançar com um pedido de expropriação de mais de 400 parcelas de terreno para a construção da mina do Barroso. A autarquia de Boticas lamenta que a Savannah esteja a avançar sem qualquer interação com os agentes locais. A população garante que não vai vender os terrenos e já marcou uma manifestação
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O presidente da câmara de Boticas acusa a empresa Savannah de atuar "num estilo colonialista", depois de o Jornal de Negócios adiantar que a mineira britânica vai avançar com um processo de expropriação de 472 parcelas de terreno com vista à construção da mina de lítio do Barroso. Segundo o jornal, a empresa apresentou propostas de aquisição das parcelas de terreno aos proprietários, que variavam entre os quatro euros e os 78 mil euros.
O autarca Fernando Queiroga garante à TSF que a população não está disponível para vender os terrenos. "A empresa continua a atuar num estilo colonialista, de 'quero, posso e mando'. A câmara de Boticas também foi notificada porque tem uma parcela que lhes interessa e vai responder que não está disponível, assim como as juntas de freguesia que também não vão vender, nem a comunidade da aldeia, muito menos pelo preço que eles propõem", afirma Fernando Queiroga, que acrescenta que a situação está a causar "mal-estar" entre a população.
O autarca lamenta ainda que não haja qualquer interação entre a empresa e a população ou os agentes locais, como a câmara municipal. O projeto da Savannah requer uma área de quase 600 hectares de concessão para a mina de lítio do Barroso.
Fernando Queiroga defende que a exploração só vai trazer "destruição". "Para se ter uma ideia, é pensar numa montanha. O objetivo é cortar a montanha a meio e a escavação é feita a partir daí. E os impactos que isto tem só são negativos, porque não traz empregabilidade, não deixa riqueza, não traz pessoas, até pelo contrário, vai afastar as populações vizinhas", assume Queiroga.
A população das freguesias de Covas do Barroso e Vilar e de Viveiro agendou uma manifestação para o dia 18 de janeiro, "para mostrar que a população não vai aceitar o projeto", adianta à TSF Nelson Gomes, da Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso.
O representante garante que o projeto está a ser "imposto à força" e alerta que, se a exploração avançar, vai significar "o fim da aldeia". "As pessoas não vão vender, os terrenos são essenciais para o modo de vida destas populações", acrescenta.
Nelson Gomes lembra que deram entrada nos tribunais vários processos a contestar a situação e admite a possibilidade de recorrer ao Tribunal Europeu. O representante da Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso frisa que a população vai recorrer a todas as vias possíveis para impedir que o projeto avance.
A TSF já contactou o Ministério do Ambiente para saber em que ponto está o pedido de expropriação, mas ainda não obteve resposta.