O presidente do Banco BPI, Fernando Ulrich, considera que o Presidente da República foi "prudente" ao vetar o decreto sobre o fim do sigilo bancário.
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Confrontado pelos jornalistas sobre o veto do Presidente da República ao fim do sigilo bancário para os depósitos acima de 50 mil euros, Fernando Ulrich quis sublinhar que fala "sobre política"
Mas "eu percebo que, num momento em que há muita volatilidade e instabilidade nos mercados, e em que há muitas situações por consolidar, seja prudente. Foi dessa forma que eu entendi a posição do senhor Presidente da República", afirmou o presidente do BPI.
"Há muitos anos que digo que acho que não é indispensável e até que não devia haver sigilo bancário para efeitos fiscais. Mas não é com o limite dos 50 mil euros ou não, porque há também muita fraude fiscal em níveis de rendimentos mais baixos", sublinhou.
E realçou: "Penso que na situação em que estamos, eu compreendo uma atitude de prudência e de bom senso, e de não estar a fazer mexidas muito radicais, dado que há muita coisa para consolidar, na economia, no sistema financeiro, e na atração do investimento estrangeiro".
Por outro lado, vincou Ulrich, nos últimos anos "foram realizados em Portugal muitos progressos na melhoria da eficiência da máquina fiscal e, portanto, a capacidade que o Fisco hoje em dia tem de cobrar os impostos é muito maior e [o sistema fiscal] funciona muito melhor do que há 10 ou 20 anos".
O líder do BPI rematou que "tudo junto, uma posição de equilíbrio é neste momento, mais construtiva".
O Presidente da República vetou o decreto do Governo que obriga os bancos a informar a Autoridade Tributária sobre as contas bancárias de residentes em território nacional com saldo superior a 50 mil euros.
O Presidente da República justificou na sexta-feira o veto ao decreto do Governo sobre acesso da Autoridade Tributária a informação bancária considerando que é de uma "inoportunidade política" evidente, num momento de "sensível consolidação" do sistema bancário.
Interesse internacional é possitivo
O presidente do BPI considera positivo para o setor bancário o interesse que investidores estrangeiros têm demonstrado nalguns bancos, como o BPI e o BCP, afastando o cenário de fusão entre as duas entidades, que já foi várias vezes equacionado.
"[A fusão do BPI com o BCP] não está neste momento em cima da mesa. Nós temos a nossa agenda, os nossos acionistas têm a sua agenda, e o BCP tem a sua vida e o seu caminho próprio", afirmou aos jornalistas o gestor, à margem de um evento em Lisboa.
"Isso foi uma ideia que surgiu já lá vão quase dois anos e não tem nada a ver com a entrada do acionista A ou B", realçou.
Questionado sobre o interesse de investidores estrangeiros nos bancos portugueses, com o catalão CaixaBank a querer reforçar a sua posição no BPI e os chineses da Fosun a negociarem a entrada no capital do BCP, Ulrich destacou que os alvos são bancos específicos.
"Alguns bancos portugueses, não sei se todos [são alvo de interesse internacional]. Porque a situação dos vários bancos portugueses é muito diferente. Mas é verdade que sim. Alguns bancos portugueses suscitam o interesse dos investidores estrangeiros, como é o caso do BPI e do BCP. Esses seguramente que sim", frisou, admitindo que este apetite é posito para o conjunto do sistema financeiro português.
Já sobre a situação do Banco de Fomento Angola (BFA), Ulrich escusou-se a revelar se a operadora angolana Unitel aceitou a proposta feita pela equipa de gestão do BPI, que lhe daria o controlo sobre o banco e resolveria a situação da exposição aos grandes riscos estipulada pelo Banco Central Europeu (BCE).
"Sobre a Unitel e sobre esse tema não vou responder, porque é informação relevante e é uma situação em que, havendo informação, ela tem que ser comunicada ao mercado. E, por isso, eu não vou fazer um comentário 'ad hoc' sobre isso", atirou Ulrich.
A 21 de setembro, a administração do BPI fez uma nova proposta aos parceiros angolanos, que passa pela venda de 2% do capital do Banco de Fomento Angola (BFA) à operadora Unitel por 28 milhões de euros, permitindo que a operadora angolana passe a ser a maior acionista.
Atualmente, o BPI detém 50,1% do capital do BFA, enquanto a Unitel é dona de 49,9%, e o objetivo desta operação é resolver a situação de ultrapassagem do limite dos grandes riscos impostos pelo BCE relativamente à exposição do banco português a Angola.
Esta proposta feita à operadora Unitel, de Isabel dos Santos, estava condicionada à desblindagem dos estatutos do banco português, que se veio a verificar na última reunião magna de acionistas do BPI, que decorreu a 21 de setembro último.
Deutsche Bank
Entretanto, o presidente do Banco BPI, Fernando Ulrich, minimizou hoje o impacto que a situação que vive o Deutsche Bank pode ter sobre a banca portuguesa, afastando esta crise do colapso do Lehman Brothers em 2008.
"Há uns meses o Fundo Monetário Internacional (FMI) disse que o Deutsche Bank era o banco que tinha potencialmente mais risco sistémico a nível internacional. Se o FMI disse isso, claro que é uma preocupação. Mas, diretamente para o BPI, não é uma preocupação, temos pouca exposição", afirmou aos jornalistas à margem de um evento em Lisboa.
"Claro que é preocupante que o maior banco da principal potência europeia esteja, pelo menos, sob os holofotes. Eu não conheço a situação em detalhe do Deutsche Bank, pelo que seria incorreto e desagradável estar a fazer comentários específicos sobre o Deutsche Bank mas, obviamente é um grande banco e um dos maiores bancos de investimento do mundo e o maior da Alemanha, pelo que é uma situação importante e deve ser seguida com cuidado", sublinhou.
Questionado sobre se a crise que vive o Deutsche Bank pode ser comparada à do Lehman Brothers, Ulrich considerou que não.
"Estou certo que não por uma razão: a perceção que eu tenho é que o Deutsche Bank é bastante melhor do que o Lehman Brothers e, portanto, não é uma situação comparável. Mas, além disso, desde o Lehman Brothers até agora, todos aprendemos muito. Os acionistas de bancos aprenderam, os gestores de bancos aprenderam, os auditores aprenderam e os supervisores aprenderam", destacou.
E acrescentou: "Todos os atores do sistema financeiro aprenderam muito e, se aprenderam muito, isso tem que servir para alguma coisa, nomeadamente, para gerir uma situação que seja grave".
Segundo o gestor, "em qualquer caso, nunca será comparável ao tempo do Lehman, porque então houve também um efeito de surpresa. Houve a implosão de uma instituição e teve que ser tudo tratado em ambiente de crise e de emergência. Hoje em dia não há nenhuma necessidade disso. Os instrumentos que os supervisores têm são muito mais potentes do que os que existiam naquela altura".