
João Ferreira do Amaral
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O antigo assessor de Soares e Sampaio defende, em entrevista ao DN e JN, que Portugal deve preparar uma saída digna do Euro e utilizar a ajuda da "troika" para compensar o aumento da dívida.
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O economista João Ferreira do Amaral considera que os políticos estão a negar a saída da moeda única como adiaram o fim da guerra colonial, mas deviam, em vez disso, «estar a preparar uma saída ordenada e digna enquanto é tempo».
João Ferreira do Amaral defende, na entrevista ao DN e JN, que lutar por outro tipo de políticas e ficar no Euro começa a ser uma «possibilidade bastante remota».
O professor de politica económica refere que Portugal só tem duas soluções: «ou a Zona Euro muda muito a sua forma de funcionar ou mais cedo ou mais tarde teremos de sair».
Como a primeira hipótese lhe parece «pouco provável» resta ao país preparar-se para uma «saída ordenada e com o apoio comunitário», defende.
João Ferreira do Amaral acha que o plano que a "troika" nos impôs não «irá dar resultados ao nível do crescimento económico» e, por isso, quando a ajuda externa acabar vamos ser confrontados com taxas de juro que podem rondar os 12 por cento.
Neste contexto, recupera a comparação com a guerra. «Estamos a deixar apodrecer a situação até constatarmos daqui a uns quatro ou cinco anos que a única saída possível é péssima, e nessa altura vamos fazer tudo de forma precipitada sem qualquer capacidade de controlo».
Se tudo fosse preparado e com a desvalorização cambial, os empresários perceberiam rapidamente que é mais rentável investir em bens e serviços para exportar e seria também mais fácil captar o investimento estrangeiro.
Ferreira do Amaral lembra que há uns dias a chanceler alemã admitiu pela primeira vez que uma moeda forte não é boa para todos os países. Os lideres europeus já têm a noção de que há estados sem capacidade de crescer nesta situação.
Por exemplo, «temos a Alemanha com um excedente da balança corrente que aponta para uma apreciação cambial e depois temos Portugal e a Grécia com défices correntes brutais que apontam para uma depreciação da moeda», estes são interesses irreconciliáveis.
A hora da verdade no entanto, diz, «está iminente» e «Atenas vai servir de cobaia para o que se seguirá».
Nesta entrevista, João Ferreira do Amaral defende ainda que o programa da "troika" sozinho não chega porque o FMI não sabe trabalhar com países sem moeda própria e por isso não há qualquer medida para a criação de uma nova estrtura produtiva.
Quanto à redução da Taxa Social Única (TSU) diz que é «um disparate total» que não terá qualquer efeito na estrutura produtiva porque não faz uma discriminação positiva, «desce a taxa em todas os sectores e não é isso de que o país precisa».