As associações nacionais e regionais temem fim das quotas que os países europeus têm na produção de leite. Mudança arranca em abril. Produtores açorianos falam em «falência» da economia da região.
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O fim das quotas europeias para a produção de leite, a partir de 1 de abril, levanta grandes preocupações aos agricultores portugueses que temem uma "invasão" de leite mais barato dos países que têm capacidade para aumentar a produção. O alerta é da Federação Agrícola dos Açores e da Associação de Produtores de Leite e Carne.
Os agricultores da região autónoma dizem mesmo que esta mudança «pode ser uma tragédia para os Açores, com um impacto negativo ainda mais dramático do que a diminuição da presença americana na Base das Lajes». Os preços pagos aos produtores já estão no limite do razoável, pelo que o fim das quotas pode significar a «desertificação de muitas das ilhas» e a «falência económica da região».
Jorge Rita, o presidente da federação, explica à TSF que os produtores dos Açores já foram afetados pelo embargo russo à Europa e muitos podem abandonar o setor se existirem novas descidas dos preços pagos a quem trata das vacas. O representante recorda que metade da economia da região depende da agricultura e, desta parte, 73% vem do leite.
Os agricultores das ilhas querem por isso que os governos Regional e de Lisboa façam pressão sobre a União Europeia para que existam mais fundos de Bruxelas e um reforço da promoção da marca Açores.
A nível nacional, também a Associação de Produtores de Leite e Carne está preocupada com o fim das quotas leiteiras, temendo uma "enchente" de leite mais barato, espanhol e, sobretudo, francês.
José Campos Oliveira explica que nos últimos 6 meses o preço pago aos produtores já caiu perto de 25% devido ao embargo russo aos produtores da União Europeia. Uma descida que deve acentuar-se com o fim das quotas, o que leva a associação a recear a saída de ainda mais agricultores do setor.
Do lado da Associação dos Produtores de Leite de Portugal, Carlos Neves não teme um cenário tão negro, mas conta que já há produtores a fechar portas devido à queda dos preços nos últimos meses, motivada pelo embargo russo. Um embargo que, ao contrário de outros setores, não gerou apoios extra aos produtores de leite.