Fitch avisa que Chega pode pressionar contas públicas. Ventura fala em "sinal" de que poderá "vencer as próximas eleições"
Confrontado com o posicionamento da agência de notação financeira, André Ventura confessou estranhar que o mesmo alerta não tivesse sido feito em relação a partidos que "defendiam a nacionalização da maior parte da economia"
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A Fitch acredita que os resultados das eleições legislativas não devem interromper a trajetória de redução da dívida pública que Portugal tem levado a cabo, mas alerta para pressões que o Chega pode colocar sobre a despesa.
As eleições antecipadas "não resolveram a incerteza política a curto prazo, mas não prevemos que isso leve a mudanças significativas na situação orçamental do país", considera a agência de notação financeira Fitch, em comunicado.
A agência, que manteve o rating de Portugal inalterado em A- em março, está confiante de que o país vai continuar a reduzir a dívida pública, projetando também um excedente orçamental de 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano.
Apesar disso, a Fitch alerta que "a ascensão do partido anti-imigrante Chega (que pode tornar-se o segundo maior partido no Parlamento assim que os votos do estrangeiro forem contados) pode aumentar as pressões políticas para aumentar os gastos à medida que Portugal avança no ciclo eleitoral".
Confrontado com o posicionamento da agência de notação financeira, André Ventura confessou estranhar que o mesmo alerta não tivesse sido feito em relação a partidos que "defendiam a nacionalização da maior parte da economia".
"Acho extraordinário uma agência anotar como um risco para a dívida pública o crescimento do Chega, quando nós tivemos durante anos partidos estatistas a apoiar o Governo, como foi durante a geringonça, partidos que defendiam a nacionalização da maior parte da economia, e nunca deixaram o alerta para o perigo da economia, e agora, um partido que até é liberal, e que até defende o mercado, e que até quer mais economia e mais investimento, vem dizer que é um risco para a dívida pública portuguesa", criticou.
O líder do partido de extrema-direita afirmou ainda que "estas agências são parte do mesmo sistema enviesado" que considerou existir "na Europa e no mundo".
Apontando que esta agência já tinha deixado alertas sobre Donald Trump ou Javier Milei e eles se tornaram os Presidentes dos Estados Unidos e da Argentina, respetivamente, Ventura afirmou que este pode ser "um sinal" de que poderá "vencer as próximas eleições legislativas" em Portugal.
Além disso, as promessas eleitorais da AD incluem mais cortes de impostos, "o que poderia enfraquecer a postura orçamental no curto prazo, embora as perspetivas de implementação permaneçam incertas", acrescenta a agência de notação financeira.
A somar-se às pressões orçamentais estarão também os compromissos para aumentar a despesa em Defesa, nomeadamente após ter sido antecipada a meta de atingir 2% do PIB nesta área.
No entanto, como a AD será o maior partido no Parlamento, é esperada a continuidade das políticas, nomeadamente "com foco na procura por superávits orçamentais moderados, enquanto o impulso do investimento beneficia dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência".
